É preciso encontrar respostas adequadas ao desafio da educação
Fortalecidos pelo Espírito, em continuidade com o caminho indicado pelo Concílio Vaticano II, e em particular com as orientações pastorais do decênio recém-concluído, tendes escolhido assumir a educação como tema importante para os próximos dez anos. Tal horizonte temporal é proporcional à radicalidade e amplitude da questão educativa. E me parece necessário andar em direção às raízes profundas dessa emergência para encontrar também as respostas adequadas a esse desafio. Eu aqui ressalto especialmente duas.
Primeira: Um falso conceito de autonomia do homem
Uma raiz essencial consiste - me parece - em um falso conceito de autonomia do homem: o Homem deveria desenvolver-se somente por si mesmo, sem imposições de parte dos outros, os quais poderiam assistir o seu autodesenvolvimento, mas não entrar neste desenvolvimento. Na realidade, é essencial para a pessoa humana o fato de que se torna ela mesma somente a partir do outro, o "eu" torna-se si mesmo somente a partir do "tu" e do "vós", é criado para o diálogo, para a comunhão sincrônica e diacrônica. E somente o encontro com o "tu" e com o "nós" abre o "eu" a si mesmo.
Por isso a assim chamada educação antiautoritária não é educação, mas renúncia à educação: assim não nos permite saber o quanto somos devedores aos outros, a este "tu" e "nós" nos quais se abre o "eu" a si mesmo. Então um primeiro ponto me parece este: superar esta falsa ideia de autonomia do homem, como um "eu" completo em si mesmo, enquanto torna-se "eu" também no encontro com o "tu" e com o "nós".
Segunda: Ceticismo e relativismo
A outra raiz da emergência educativa eu a vejo no ceticismo e no relativismo ou, com palavras mais simples e claras, na exclusão das duas fontes que orientam o caminho humano. A primeira fonte deveria ser a natureza, seguida pela Revelação. Mas a natureza é considerada hoje como uma coisa puramente mecânica, de tal forma que não contém em si algum imperativo moral, alguma orientação de valores: é algo puramente mecânico, e então não possui alguma orientação do ser mesmo.
A Revelação é considerada ou como um momento do desenvolvimento histórico, então relativo como todo o desenvolvimento histórico e cultural, ou - costuma-se dizer - embora revelação, não compreende conteúdos, somente motivações. E silenciadas essas duas fontes, a natureza e a Revelação, também a terceira fonte, a história, não fala mais, porque também a história torna-se somente um aglomerado de decisões culturais, ocasionais, arbitrárias, que não valem para o presente e para o futuro.
Fundamental é, então, re-encontrar um conceito verdadeiro da natureza como criação de Deus que fala a nós; o Criador transmite o livro da criação, fala a nós e nos mostra os valores verdadeiros. E assim também, pois, re-encontrar a Revelação: reconhecer que o livro da criação, no qual Deus nos dá as orientações fundamentais, é decifrado na Revelação, é aplicado e feito próprio na história cultural e religiosa, não sem erros, mas de uma maneira substancialmente válida, sempre de novo a se desenvolver e purificar. Assim, neste "concerto" - por assim dizer - entre criação decifrada na Revelação, concretizada na história cultural que sempre vai adiante e na qual nós re-encontramos sempre mais a linguagem de Deus, abrem-se também as indicações para uma educação que não é imposição, mas realmente abertura do "eu" ao "tu", ao "nós" e ao "Tu" de Deus.
Educar é formar as novas gerações, para que saibam entrar em contato com o mundo
Então as dificuldades são grandes: re-encontrar as fontes, a linguagem das fontes, mas, por saber do peso dessas dificuldades, não podemos ceder à desconfiança e à resignação. Educar já não é mais tão fácil, mas não devemos nos render: falharemos no mandato que o Senhor nos confiou, chamando-nos a apascentar com amor a sua grei. Despertemos acima de tudo nas nossas comunidades aquela paixão educativa, que é uma paixão do "eu" pelo "tu", pelo "nós", por Deus, e que não se resolve através de uma didática, em um conjunto de técnicas e tampouco na transmissão de princípios áridos.
Educar é formar as novas gerações, para que saibam entrar em contato com o mundo, fortalecidos por uma memória significativa que não é somente ocasional, mas acrescida da linguagem de Deus que encontramos na natureza e na revelação, de um patrimônio interior compartilhado, da verdadeira sabedoria que, enquanto reconhece o fim transcendente da vida, orienta o pensamento, os afetos e o juízo.
A nossa resposta é o anúncio do Deus amigo do homem
Os jovens carregam uma semente no seu coração, e esta semente é uma busca de signficados e relacionamentos humanos autênticos, que ajudam a não se sentir sozinhos diante dos desafios da vida. É desejo de um futuro, que torna-se menos incerto através de uma companhia segura e confiável, que se aproxima de cada um com delicadeza e respeito, propondo valores saudáveis a partir dos quais crescer rumo a objetivos elevados, mas realizáveis.
A nossa resposta é o anúncio do Deus amigo do homem, que em Jesus se fez próximo de cada um. A transmissão da fé é parte irrenunciável da formação integral da pessoa, porque em Jesus Cristo se realiza o projeto de uma vida de sucesso: como ensina o Concílio Vaticano II, "aquele que segue Cristo, o homem perfeito, torna-se também ele mais homem" (Gaudium et Spes, 41). O encontro pessoal com Jesus é a chave para intuir a relevância de Deus na existência cotidiana, o segredo para manifestá-la na caridade fraterna, a condição para levantar-se sempre das quedas e mover-se constantemente à conversão.
Os ambientes da educação
A missão educativa, que tendes assumido como prioritária, valoriza sinais e tradições, dos quais a Itália é bastante rica. Necessita de lugares credíveis: acima de tudo a família, com o seu papel peculiar e irrenunciável; a escola; horizonte comum para além de opções ideológicas; a paróquia, "fonte da aldeia", lugar e experiência que inicia a fé no tecido das relações cotidianas. Em cada um desses ambientes é decisiva a qualidade do testemunho, via privilegiada da missão eclesial.
O acolhimento da proposta cristã passa, de fato, através da relação de proximidade, lealdade e confiança. Em um tempo no qual a grande tradição do passado arrisca-se a permanecer letra morta, somos chamados a nos aproximarmos de cada um com disponibilidade sempre nova, acompanhando-o no caminho de descoberta e assimilação pessoal da verdade. E fazendo isso também nós podemos redescobrir de modo novo as realidades fundamentais.
Audiência aos bispos da Conferência Episcopal Italiana (CEI)
Assembleia Geral,
27 de maio de 2010
Sala do Sínodo.
Sala do Sínodo.
Tradução: Canção nova
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