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CITAÇÕES DE LÉON BLOY: O PEREGRINO DO ABSOLUTO


Leon Bloy

PENSAMENTOS DE LÉON BLOY

Trechos extraídos do livro “Léon Bloy”, de Octavio de Faria, Gráfica Record Editora, Rio de Janeiro, 1968.

Eu pedia continuamente a Deus, que me enviasse sofrimentos extraordinários, enormes tormentos espantosos, e que assim eu pagasse por todos aqueles que amava, por todos os que amasse e devesse amar, quaisquer que eles fossem, inclusive assassinos ou mulheres perdidas
(Leon Bloy, Cartas)

“O visível é a marca dos passos do Invisível”
(Mon Journal, M.F. – ed. 1928, p. 78)

“Quanto mais alguém se aproxima de Deus, mais fica só. É o infinito da solidão.”
(La porte des Humbles, M.F. - ed. 1920, p. 141)

“Senhor Jesus, orais por quem vos crucifica e crucificais aqueles que vos amam”
(Le Mendiant Ingrat, v. II , M.F – 1928, p.170)

“A Fé é o conhecimento de nossos limites”
(Le Mendiant Ingrat, M.F. – ed. 1928, p. 207)

“A dor é uma graça que não merecemos”
(Quatre Ans De Captivé Á Cochoins-Sur-Marne, v. II, - M.F. ed. 1928, p.211)

“Chegamos a esse formidável e absolutamente estranho momento em que, Deus tendo sido expulso de toda parte, nenhum homem saberá mais para onde ir”

“Por que não se desencadeou ainda a perseguição sangrenta? Porque o demônio não consegue se decidir. Sabe que sobre dez ou vinte mil apóstatas, em relação aos quais está seguro, haverá um mártir e isso lhe causa medo”

“A função da Razão é crer e crer é saber, saber NO ALTO”

“É preciso ver em cada palavra da Escritura um vaso cheio do Sangue de Jesus Cristo”

“Os acontecimentos não são sucessivos, mas contemporâneos, de um modo absoluto. Contemporâneos e simultâneos, e é por essa razão que podem existir profetas. Os acontecimentos desenrolam-se sob os nossos olhos, como uma tela imensa. Só a nossa visão é que é sucessiva.”

“Nossas almas, resgatadas com sangue de Jesus Cristo, não são ´malditas´, mas condenadas a gerar Deus na dor. Quando Deus estiver nascido, as torrentes de alegria cairão sobre nós e escutaremos o canto dos anjos”

“O paraíso terrestre era necessariamente toda a terra. De outro modo, a terra não poderia ter sido maldita, posto que, supondo o Jardim de Volúpia um lugar determinado, tudo, além dos limites desse lugar, seria o que vemos, e, por conseguinte, não teria tido necessidade de maldição. Adão, antes da sua queda, vivia num estado inimaginável, análogo, ao que parece, àquele de Nosso Senhor na sua Humanidade gloriosa, depois da Ressurreição: luminosidade, agilidade, sutileza, ubiqüidade, etc., a matéria não lhe podendo servir de obstáculo. Adão, antes da queda era como um carvão em estado de incandescência. Subitamente extinto, perdeu sua luz e seu calor, tornando-se frio e negro.”

“No caminho da Igreja. Digo eu: quanto mais marchamos no sentido de Deus, mais seremos unidos, isto é: próximos. Os seres humanos não são paralelos, mas convergentes. E Deus é o seu foco.”

“Somos doentes, mas Maria é nosso hospital: Salus infirmorum. A cura, nesse hospital é a santidade.”

“Enfim, tudo o que não é estritamente católico, exclusivamente, desatinadamente católico, deve ser atirado nas latrinas.”


“Quereis saber o que há de vital, de absolutamente essencial na Igreja de Jesus Cristo? Olhai para o que os protestantes execram”

“Declaro, em nome de um muito pequeno grupo de indivíduos que amam a Deus e estão decididos a morrer por Ele quando for necessário, que o espetáculo dos católicos modernos é uma tentação acima de nossas forças”

“Em síntese, afirmai, gritai mesmo que sou um católico, e será verdade. Mas, um católico não maçador, porque, um católico ABSOLUTO”

“Os imbecis estão na Igreja como as pulgas nas casas velhas. Apavoram os visitantes e fazem com que os locatários se mudem.”

“O que se vê pode toda parte, e cada vez mais, é, por parte dos cristãos, o ateísmo prático, pelo menos na maior parte deles”

“...ousei dizer o que amedronta a todo a todo mundo, sobretudo aos covardes católicos de nossa época, em completo esquecimento do julgamento dos homens”

“Três espécies de seres cujo contato cada dia me é mais insuportável: os ricos, os pulhas e os protestantes.”

“Há para o diabo épocas fastas, inexplicáveis momentos em que uma extraordinária licença concedida aos poderosos de seu inferno”


***

SOBRE LÉON BLOY

O escritor francês Léon Bloy autodenominava-se "o peregrino do absoluto", "o mendigo ingrato"... Nasceu em Périgueux, em 1846. A maior parte da vida residiu em Paris. Morreu em Bourg La Reine em 1917, aos 71 anos. Depois de converter-se ao catolicismo aos vinte e poucos anos, disparava dardos e petardos para todos os lados, conseguindo indispor-se tanto com ateus e materialistas quanto com maus católicos e prelados. Léon Bloy, a mulher e os filhos conheceram a mais absoluta miséria - seus livros vendiam pouco, a imprensa sequer o citava. Muitas vezes precisou esmolar para comer. No final da vida alcançou um certo reconhecimento entre os intelectuais e artistas franceses, mas viveu sempre marginalizado e pouco lido. (No Brasil, há um ensaio (esgotado) de Octávio de Faria, com muitos excertos traduzidos, "Léon Bloy", Gráfica Record Editora, Rio de Janeiro, 1968.)

LÉON BLOY E OS MARITAIN

Foi o encontro com Bloy o passo fundamental de Raissa e Jacques Maritain em sua caminhada para a fé católica. Este encontro se deu pela leitura de um livro de Bloy que suscita nela a segunte reflexão: “Lendo ‘La femme pauvre’ atravessamos a linguagem literária (...) para ir diretamente não ao autor, mas ao homem, homem de fé, iluminado pelos raiso dessa coisa estranha, tão desconhecida par anós, e com que a ele identificada; o catolicismo”(p. 84). Logo depois, resolvem escrever para Bloy e visitá-lo. A expectativa da primeira visita é descrita por Jacques e citada por Raissa:

No dia 15/06/1905, duas crianças de 20 anos subiam a escadaria do Sacré-coeur. Levavam em si essa angústia que é o único produto real da cultura moderna, e uma espécie de desespero ativo iluminado apenas, sem que soubessem por quê, pela certeza interior de que a Verdade de que tinham fome, e sem a qual lhes era quase impossível aceitar a vida, lhes seria um dia mostrada (...). (p. 92)

Iam ao encontro de um estranho mendigo, que desprezando qualquer filosofia clamava em altos brados a verdade divina e, católico integralmente obediente, com muito mais liberdade do que todos os revolucionários do mundo, condenava o seu tempo e os que se sentem consolados aqui na terra. (p. 93)

Bastava transpor o limiar de sua porta para que, como que impulsionados por mola invisível, estabelecessem-se os valores na sua verdadeira hierarquia. Sabia-se, adivinhava-se que “só há uma tristeza, a de não ser santo.[1] E tudo o mais se tornava crepuscular. Depois de dois anos de convivência com Bloy, pedem o Batismo. Foram batizados no dia 11 de junho de 1906, na festa de São Barnabé, na Igreja Saint Jean L’evangeliste em Montmartre, tendo Leon Bloy como padrinho.

[1] Última frase do livro La femme paure de Leon Bloy.

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