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ENTREVISTA EXCLUSIVA DO PAPA FRANCISCO A GERSON CAMAROTTI



- Papa Francisco, o senhor chega ao Brasil e tem uma receptividade muito calorosa dos brasileiros. Há uma rivalidade histórica Brasil e Argentina pelo menos no futebol. Como é que o senhor recebeu esse gesto de afeto dos brasileiros?

PAPA FRANCISCO: Eu me senti recebido com um afeto que desconhecia, de forma muito calorosa. O povo brasileiro tem um grande coração. Quanto à rivalidade, creio que já está totalmente superada. Porque negociamos bem: o Papa é argentino e Deus é brasileiro.

- Uma grande solução, não é Santo Padre?

PAPA FRANCISCO: Acho que me senti muito bem recebido, com muito carinho.

- Santo Padre, no Brasil o senhor utilizou ao chegar e continuou utilizando um carro de modelo muito simples. Há notícias de que o senhor inclusive condenou padres que usavam carros de luxo pelo mundo. Eu queria saber o senhor inclusive optou por morar na casa Santa Marta. Essa sua simplicidade é uma nova determinação a ser seguida por padres, por bispos e por cardeais?

PAPA FRANCISCO: São coisas diferentes, é preciso diferenciá-las e explicar. O carro que estou usando aqui é muito parecido com o que eu uso em Roma. Em Roma uso um Ford Focus azul. Simples, do tipo que qualquer um pode ter. Sobre isso, penso que temos que dar testemunho de uma certa simplicidade – eu diria, inclusive, de pobreza. Nosso povo exige a pobreza de nossos sacerdotes. Exige no bom sentido, não pede isso. 

O povo sente seu coração magoado quando nós, as pessoas consagradas, estamos apegadas ao dinheiro. Isso é ruim. E realmente não é um bom exemplo que um sacerdote tenha um carro último tipo, de marca. Acredito que… Isso, digo aos párocos, em Buenos Aires dizia sempre: é necessário que o padre tenha um carro, é necessário. Porque na paróquia há mil coisas a fazer, deslocamentos são necessários. Mas tem que ser um carro modesto. Isso quanto ao automóvel. 

Quanto à decisão de viver em Santa Marta, não foi tanto por razões de simplicidade. Porque o apartamento papal é grande, mas não é luxuoso. É lindo, mas não tem o luxo que tem a biblioteca dos andares de baixo, onde recebemos as pessoas. Lá há muitas obras de arte, é muito bonito… Mas o apartamento é simples. Mas a minha decisão de ficar em Santa Marta tem a ver com o meu modo de ser. Não consigo viver só. Não posso viver fechado. Preciso do contato com as pessoas. 

Então costumo explicar da seguinte forma: fiquei em Santa Marta por razões psiquiátricas. Para não ter que estar sofrendo essa solidão que não me faz bem. E também para economizar, porque caso contrário teria que gastar muito dinheiro com psiquiatras… E isso não é bom. Mas é para estar com as pessoas. Santa Marta é uma casa de hóspedes em que vivem uns 40 bispos e sacerdotes que trabalham na Santa Sé. Tem uns 130 cômodos, mais ou menos, e há sacerdotes, bispos, cardeais, e leigos que se hospedam em Roma ficam lá. Eu como no refeitório comum a todos. Café da manhã, almoço e jantar. E a gente sempre encontra gente diferente, e isso me faz bem. Essas são as razões. 

E agora, a regra geral. Acredito que Deus está nos pedindo, neste momento, mais simplicidade. É algo interior, que Ele pede à Igreja. Já o Concílio tinha chamado atenção para isso: uma vida mais simples, mais pobre também. Isso de maneira geral. Acho que respondi suas perguntas? Sobre o carro, sobre Santa Marta, e sobre as regras gerais. Certo?

- Me chamou muita atenção o senhor estar canonizando o Papa João XXIII. É um modelo que o senhor quer resgatar?

PAPA FRANCISCO: Creio que os dois Papas que serão canonizados na mesma cerimônia são dois modelos de Igreja que se complementam. Os dois deram testemunho de uma renovação da Igreja, enquanto mantiveram a tradição da Igreja. Os dois abriram portas ao futuro. João XXIII abriu a porta do Concílio que até hoje nos inspira, mas que ainda não foi posto totalmente em prática. 

Para se colocar em prática as decisões de um Concílio demora, em média, 100 anos. Então estamos na metade do caminho. E João Paulo II pegou a mala, correu o mundo. Foi um missionário, saiu espalhando a mensagem da Igreja. Um missionário. São dois grandes homens para a Igreja atual. Por isso, pra mim, será uma grande felicidade ver os dois proclamados santos no mesmo dia, na mesma cerimônia.

- Muito simbólico, achei muito importante também. Santo Padre, quando o senhor chegou ao Rio de Janeiro houve falhas na segurança. O seu carro foi levado ali para o meio da multidão. O Papa Francisco ficou com medo? Qual foi o seu sentimento naquele momento?

PAPA FRANCISCO: Eu não sinto medo. Sou inconsciente, não sinto medo. Sei que ninguém morre de véspera. Quando for minha vez, o que Deus permitir, assim será. Mas, antes de viajar, fui ver o papamóvel que seria trazido para cá. Era cercado de vidros. Se você vai estar com alguém a quem ama, amigos, e quer se comunicar, você não vai fazer essa visita dentro de uma caixa de vidro? Não. 

Eu não poderia vir ver este povo que tem um coração tão grande, por trás por uma caixa de vidro. E nesse automóvel, quando ando pela rua, baixo o vidro. Para poder estender a mão, cumprimentar as pessoas. // Quer dizer, ou tudo ou nada. Ou a gente faz a viagem como deve ser feita, com comunicação humana, ou não se faz. Comunicação pela metade não faz bem. 

Eu agradeço - e nesse ponto tenho que ser muito claro – agradeço à segurança do Vaticano, pela forma como preparou esta visita. O cuidado que sempre tem. E agradeço à segurança do Brasil. Agradeço muito. Porque aqui também estão tendo todo o cuidado comigo, ao evitar que haja algo desagradável. Pode acontecer, pode acontecer de alguém me dar soco… Pode acontecer. // As duas seguranças trabalharam muito bem. Mas as duas sabem que sou um indisciplinado, nesse aspecto. Mas não por agir como um menino levado, não. E sim porque vim visitar gente, e quero tratá-las como gente. Tocando-as.

- Papa Francisco, seu grande amigo cardeal Claudio Hummes, aqui do Brasil, me falou algumas vezes da preocupação com a perda de fiéis aqui no continente. Brasil, principalmente, para outras religiões - principalmente para religiões evangélicas. Aí eu lhe pergunto: por que acontece isso e o que pode ser feito?

PAPA FRANCISCO: Não conheço as causas, e tampouco as porcentagens. Não as conheço. Ouvi falar sobre esse tema em dois sínodos de bispos. Estou falando em 10 anos… Em 2001, com certeza, e depois em outro sínodo. Essa preocupação com a evasão de fiéis. Não conheço a vida do Brasil o suficiente para dar uma resposta. Acho que o cardeal Hummes foi um dos que falaram, mas não tenho certeza. Mas se você está dizendo, sabe. 

Não saberia explicar esse fenômeno. Vou levantar uma hipótese. Pra mim é fundamental a proximidade da Igreja. Porque a Igreja é mãe, e nem você nem eu conhecemos uma mãe por correspondência. A mãe… Dá carinho, toca, beija, ama. Quando a Igreja, ocupada com mil coisas, se descuida dessa proximidade, se descuida disso e só se comunica com documentos, é como uma mãe que se comunica com seu filho por carta. Não sei se foi isso o que aconteceu no Brasil. Não sei, mas sei que em alguns lugares da Argentina que conheço, isso aconteceu. 

Essa falta de proximidade… A falta de sacerdotes. Faltam sacerdotes, então alguns locais ficam desassistidos. E as pessoas buscam, sentem necessidade do Evangelho. Um sacerdote me contou que foi como missionário a uma cidade no sul da Argentina onde não havia um sacerdote há quase 20 anos. Evidentemente, as pessoas ouviam o pastor. Porque sentiam a necessidade de escutar a palavra de Deus. Quando ele foi até lá, uma senhora muito culta disse a ele: “Tenho raiva da Igreja porque nos abandonou. Agora vou ao culto todos os domingos ouvir o pastor, que foi quem alimentou nossa fé durante todo esse tempo.” Ou seja, a falta de proximidade. 

Falaram sobre isso, o sacerdote a ouviu, e quando ia se despedir, ela disse: “Padre, um momento, venha”. E foi até um armário, onde havia a imagem da Virgem. E disse a ele: “Eu a escondo aqui, para que o pastor não a veja.” Essa mulher ia ao pastor, respeitava o pastor, ele falava a ela de Deus, e ela aceitava. Porque não tinha seu sacerdote. Mas as raízes de sua fé, ela as conservou escondidas num armário. Estavam lá. Esse é o fenômeno para mim mais sério. Este episódio me mostra muitas vezes o drama da fuga, desta mudança. Falta de proximidade. Vou repetir esta imagem. A mãe faz assim com o filho: cuida, beija, acaricia e o alimenta. Não por correspondência.

- Tem que estar próximo, não é? Nas cercanias.

PAPA FRANCISCO: Proximidade. É uma das pautas pastorais para a Igreja hoje. Eu quero uma Igreja próxima.

- Papa Francisco, quando o senhor foi escolhido no conclave, a Cúria romana especificamente era alvo de críticas – inclusive críticas internas, de vários cardeais. E o sentimento que eu percebi, pelo menos dos cardeais com quem eu conversei, era um sentimento de mudança. Esse sentimento está correto?

PAPA FRANCISCO: Vou abrir parênteses, um momento. Quando fui eleito, tinha ao meu lado meu amigo, o cardeal Hummes. Porque, pela ordem do mais antigo, estávamos um depois do outro. E foi ele quem me disse uma frase que me fez tanto bem: “Não se esqueça dos pobres.” É lindo. Quanto à Cúria romana, ela sempre foi criticada. Às vezes mais, à vezes menos. A Cúria se presta a críticas, e tem que resolver muitas coisas. Algumas coisas as pessoas gostam, outras não, alguns trâmites estão bem direcionados, outros estão mal enfocados, mal direcionados. Como em toda organização.

Eu diria isto: na Cúria romana há muitos santos. Cardeais santos, bispos santos, sacerdotes, religiosos, leigos santos… Gente de Deus, que ama a Igreja. Isso não aparece. Faz mais barulho uma árvore que cai do que um bosque que cresce. Se ouvem os ruídos dos escândalos. Agora mesmo temos um. Escândalo de transferência de 10 ou 20 milhões de dólares de monsenhor. Belo favor faz esse senhor à Igreja, não é? Mas é preciso reconhecer que ele agiu mal, e a Igreja tem que dar a ele a punição que merece, pois agiu mal. Há casos desse tipo. 

No momento do conclave, antes temos o que chamamos congregações gerais – uma semana de reuniões dos cardeais. Naquela ocasião, falamos claramente dos problemas. Falamos de tudo. Porque estávamos sozinhos, e com o objetivo de saber qual era a realidade e traçar o perfil do novo Papa. E dali saíram problemas sérios, derivados em parte de tudo o que vocês conhecem: do Vatileaks, e assim por diante. Havia problemas de escândalos. Mas também havia os santos. Esses homens que deram sua vida para trabalhar pela Igreja de maneira silenciosa no Conselho Apostólico. Também se falou de certas reformas funcionais que eram necessárias. Isso é verdade. E foi pedido ao novo Papa que formasse uma comissão de fora, para estudar os problemas de organização da Cúria romana. 

Um mês depois da minha eleição, eu nomeei essa comissão de 8 cardeais, um de cada continente – para a América, 2, um da América do Norte e outro da América do Sul – com um coordenador que também é latino-americano e um secretário italiano. Essa comissão começou a trabalhar, a buscar opiniões de bispos, de Conferências Episcopais, buscando opiniões sobre reformas na dinâmica dos sínodos. E já chegaram muitos documentos obtidos pelos membros das comissões e que estamos examinando. Teremos uma primeira reunião oficial sobre isso nos dias 1,2, e 3 de outubro. E discutiremos algumas pautas. 

Não creio que sairão decisões definitivas, porque a reforma da Cúria é muito séria, e as propostas são muito sérias, precisam ser amadurecidas. Calculo que sejam necessárias outras 2 ou 3 reuniões mais, antes de que apareça alguma reforma. Por outro lado, os teólogos dizem – não sei se desde a Idade Média – em latim, dizem: “A Igreja sempre precisa ser reformada”. Para não ficar para trás. 

Então isto é importante não só pelos escândalos do Vatileaks, conhecidos em todo o mundo, mas porque a Igreja sempre precisa ser reformada. Há coisas que serviam no século passado, para outras épocas, outros pontos de vista, que agora não servem mais, e é preciso reorganizar. A Igreja é dinâmica e responde às coisas da vida. E tudo isso foi pedido nas reuniões prévias dos cardeias. Falou-se disso muito claramente, foram feitas propostas muito claras e muito ricas. Iremos nessa linha. Não sei se respondi a sua pergunta?

-Respondeu muito bem, de forma muy rica. Papa Francisco, nesse momento o senhor chega eu queria saber da sua mensagem aos jovens brasileiros. Estamos na jornada mundial da juventude – Sua mensagem num momento em que os jovens estão nas ruas do Brasil, protestando e demonstrando insatisfação de uma forma muito ampla. Eu queria saber qual a mensagem pra esses jovens?

PAPA FRANCISCO: Em primeiro lugar, tenho que deixar claro que não conheço os motivos dos protestos dos jovens. Então se digo algo a respeito sem tomar conhecimento, faço mal, faço mal a todos, pois estaria dando uma opinião sem fundamento. Com toda a franqueza, não sei bem por que os jovens estão protestando. Primeiro ponto. 

Segundo ponto: um jovem que não protesta não me agrada. Porque o jovem tem a ilusão da utopia, e a utopia não é sempre ruím. A utopia é respirar e olhar adiante. O joven é mais espontâneo. Menos experiência de vida, é verdade. Mas às vezes a experiência nos freia. E ele tem mais energia para defender suas ideias. O jovem é essencialmente um inconformista. E isso é muito lindo! Isso é algo comum a todos os jovens. Então eu diria que, de uma forma geral, é preciso ouvir os jovens, dar lugares de se expressar, e cuidar para que não sejam manipulados. Porque há tanta exploração de pessoas - trabalho escravo, por exemplo – há tantos tipos de exploração…

 Eu me atreveria a dizer uma coisa, sem ofender. Há pessoas que buscam a exploração de jovens. Manipulando essa ilusão, esse inconformismo que existe. E depois arruínam a vida dos jovens. Portanto, cuidado com a manipulação dos jovens. Temos sempre que ouvi-los. Cuidado. Na família, um pai, uma mãe que não escutam o filho jovem, o isolam, geram tristeza na alma dele. E não experimentam uma troca enriquecedora. Sempre há riqueza. Evidentemente, com inexperiência. Mas é preciso ouvi-los. E defendê-los de manipulações diversas – ideológica, sociológica. O caminho é ouvir, dar-lhes voz. Isso me leva a outra problemática – que hoje, de alguma maneira, explicitei na Catedral, quando me encontrei com o grupo argentino. // 

Quando recebi um grupo de embaixadores que vieram me apresentar suas credenciais, disse que o mundo atual, em que vivemos, tinha caído na feroz idolatria do dinheiro. E que há uma política mundial, mundial, muito impregnada pelo protagonismo do dinheiro. Quem manda hoje é o dinheiro. Isso significa uma política mundial economicista, sem qualquer controle ético, um economicismo autossuficiente, e que vai arrumando os grupos sociais de acordo com essa conveniência. 

O que acontece então? Quando reina este mundo da feroz idolatria do dinheiro, se concentra muito no centro. E as pontas da sociedade, os extremos, são mal atendidos, não são cuidados, e são descartados. Até agora, vimos claramente como se descartam os idosos. Há toda uma filosofia para descartar os idosos. Não servem. Não produzem. Os jovens também não produzem muito. São uma carga que precisa ser formada. 

O que estamos vendo agora é que a outra ponta, a dos jovens, está em vias de ser descartada. O alto percentual de desemprego entre os jovens na Europa é alarmante. Não vou dizer quais são os países europeus, mas vou citar dois exemplos, de dois países ricos da Europa, sérios, sobre desemprego. Um deles tem um índice de desemprego de 25%. Mas nesse país, o índice de desemprego juvenil é de 43%, 44%. 43%, 44% dos jovens desse país estão parados. Outro país tem um índice de trinta e tantos por cento de desemprego geral. Enquanto o desemprego entre os jovens já passou de 50%. 

Nós vemos um fenômeno de jovens descartados. Então para sustentar esse modelo político mundial, estamos descartando os extremos. Curiosamente, os que são promessa para o futuro. Porque o futuro quem nos vai dar são os jovens, que seguirão adiante, e os idosos, que precisam transferir sabedoria aos jovens. Descartando os dois, o mundo desaba. 

Não sei se me expliquei bem…Falta uma ética humanista em todo o mundo, estamos falando de um problema mundial. Nesses termos, conheço o problema. Os detalhes de cada país, nem tanto. E se me der um minuto a mais, direi algo mais sobre esse tema. No século XII, e você já vai me lembrar de São Tomás de Aquino… 

No século XII havia um rabino muito bom que escrevia. O rabino explicava à sua comunidade, com fábulas, os problemas morais que havia em algumas passagens da Bíblia. Uma vez, explicou a torre de Babel. O rabino medieval, do século XII, explicava assim: qual era o problema da torre de Babel? Por que Deus o castigou? Para construir a torre, era preciso fabricar os tijolos. Trazer o barro, cortar a palha, amassá-los, cortá-los, secá-los, cozinhá-los, e depois levá-los ao alto da torre, para ir construindo. Se caia um tijolo, era uma catástrofe nacional. Se caia um operário, nada acontecia. 

Hoje, há crianças que não têm o que comer no mundo. Crianças que morrem de fome, de desnutrição, basta ver fotografias de alguns lugares do mundo. Há doentes que não têm acesso a tratamento. Há homens e mulheres que são mendigos de rua e morrem de frio no inverno. Há crianças que não têm educação. Nada disso é notícia. Mas quando as bolsas de algumas capitais caem 3 ou 4 pontos, isso é tratado como uma grande catástrofe. Compreende? Esse é o drama desse humanismo desumano que estamos vivendo. 

Por isso é preciso recuperar os extremos, crianças e jovens. E não cair numa globalização da indiferença em relação a esses dois extremos que são o futuro da população. Perdoe se me estendi e falei demais. Mas acho que com isso lhe passei o meu ponto de vista. O que está acontecendo com os jovens no Brasil não sei. Mas, por favor, que não os manipulem, que os escutem, porque esse é um fenômeno mundial, que vai muito além do Brasil.

- Muito interessante. É um pensamento mais amplo mesmo. Papa Francisco, queria talvez a última pergunta, qual a mensagem ou o que o senhor falaria para os brasileiros católicos, mas também para os brasileiros que não são católicos – ou seja, de outras religiões. Por exemplo, esteve aqui domingo o rabino Skorka, seu amigo lá de Buenos Aires. Qual a mensagem que o senhor deixaria para um país como o Brasil?

PAPA FRANCISCO: Creio que é preciso estimular uma cultura do encontro, em todo o mundo. No mundo todo. De modo que cada um sinta a necessidade de dar à humanidade os valores éticos de que a humanidade necessita. E defender esta realidade humana. Nesse aspecto, acho que é importante que todos trabalhemos pelos outros, podar o egoísmo. Um trabalho pelos outros segundo os valores da sua fé. 

Cada religião tem suas crenças. Mas, dentro dos valores de sua própria fé, trabalhar pelo próximo. E nos encontrarmos todos para trabalhar pelos outros. Se há uma criança que tem fome, que não tem educação, o que deve nos mobilizar é que ela deixe de ter fome e tenha educação. Se essa educação virá dos católicos, dos protestantes, dos ortodoxos ou dos judeus, não importa. O que me importa é que a eduquem e saciem a sua fome. Temos que chegar a um acordo quanto a isso. 

Hoje a urgência é de tal ordem que não podemos brigar entre nós, à custa do sofrimento alheio. Primeiro trabalhar pelo próximo, depois conversar entre nós, com muita grandeza, levando em conta a fé de cada um, buscando nos entender. Mas, sobretudo hoje em dia, urge a proximidade. Sair de si mesmo para solucionar os tremendos problemas mundiais que existem. 

Acredito que as religiões, as diversas confissões, prefiro falar assim, não podem dormir tranquilas, enquanto exista uma única criança que morra de fome, uma única criança sem educação. Um só jovem ou idoso sem atendimento médico. Mas o trabalho das religiões, das confissões não é beneficiência. É verdade. Mas pelo menos, na nossa fé católica, e em outras fés cristãs, vamos ser julgados por essas obras de misericórdia. Não vai adiantar nada falar de nossas teologias se não tivermos a proximidade de sair para ajudar e dar acolher ao próximo, sobretudo neste mundo em que se cai tanto da torre e ninguém diz nada.

- Muito obrigado, Papa Francisco, muito obrigado pela entrevista, pela mensagem ao Brasil…

PAPA FRANCISCO: Eu agradeço a você, a sua gentileza. E é um povo maravilhoso. Maravilhoso.

- Apesar do frio que o recebeu…

PAPA FRANCISCO: Pra mim não, venho de um país mais ao sul. Conheço o frio de Buenos Aires. É uma temperatura de outono normal para mim. 

- Mas o senhor não estranhou o frio? Porque o Brasil é mais tropical que a Argentina. O senhor não esperava um pouco mais quente o Brasil?

PAPA FRANCISCO: Não. Talvez esperasse um pouco mais de calor, mas não senti frio.

- Que bom!

PAPA FRANCISCO: Muito obrigado.

- Eu que agradeço.

Fonte:  G1

JMJ RIO 2013: ENCONTRO DO PAPA FRANCISCO COM OS JORNALISTAS DURANTE O VÔO DE REGRESSO - PARTE II



VISITA APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO BRASIL
POR OCASIÃO DA XXVIII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

ENCONTRO DO SANTO PADRE COM OS JORNALISTAS
DURANTE O VÔO DE REGRESSO

Domingo, 28 de Julho de 2013



... CONTINUAÇÃO DA PARTE I

Padre Lombardi: Bom. Agora vamos passar aos Estados Unidos, e chamamos Hada Messia, da CNN, para lhe fazer uma pergunta:

Hada Messia: Salve... O senhor segura-se em pé melhor que eu... Não, não, não! Está bem, está bem. A minha pergunta é: quando o senhor encontrou os jovens argentinos disse a eles, um pouco a brincar e talvez um pouco a sério, que, às vezes, também o senhor sente-se enjaulado; queríamos saber a que se referia exatamente…

Papa Francisco: Se você soubesse quantas vezes tive vontade de sair pelas ruas de Roma... É que, em Buenos Aires, eu gostava de caminhar pela estrada, gostava tanto! Nesse sentido, sinto-me um pouco enjaulado. Mas, dizendo isso, devo afirmar também que estes homens da Gendarmeria vaticana são bons, bons, bons, e estou-lhes grato. 

Agora deixam-me fazer mais qualquer coisa. Eu penso... seu dever é cuidar da segurança. Enjaulado, nesse sentido. Eu gostaria de caminhar pela estrada, mas entendo que não é possível: eu entendo isso. Nesse sentido, eu disse isso. É que o meu hábito era esse; como dizemos nós em Buenos Aires, eu era um padre callejero...

Padre Lombardi: Agora vamos chamar novamente um brasileiro: é Márcio Campos. E peço também Guénois que se aproxime pois a vez próxima será para os franceses.

Papa Francisco: Eu me interrogava a propósito do tempo... é que eles devem servir. Vocês estão com fome?

Vozes: Não, não...

Márcio Campos: Sua bênção, Santo Padre! Quero dizer para o senhor que, quando sentir saudades do Brasil, do povo brasileiro alegre, abrace a bandeira que eu entreguei para o senhor. Quero dizer também que desejo agradecer meus colegas do diário Folha de São Paulo, Estado, Globo e Veja por lhes estar representando com uma pergunta. Santo Padre, é muito difícil acompanhar um Papa. Estamos todos cansados. O senhor está bem, e nós estamos todos cansados. No Brasil, a Igreja Católica tem perdido fiéis, com os anos. O movimento da Renovação carismática é uma possibilidade para evitar que os fiéis procurem as igrejas pentecostais? Muito obrigado pela sua presença e muito obrigado por estar no seu vôo.

Papa Francisco: É bem verdade o que você diz acerca do declínio dos fiéis: é verdade, é verdade. Há estatísticas. Nós conversamos com os bispos brasileiros sobre o problema, em uma reunião que tivemos ontem. A pergunta do senhor era sobre o Movimento de Renovação Carismática. Eu digo-lhes uma coisa. Nos anos..., no final dos anos Setenta e início dos anos Oitenta, eu não podia vê-los. Uma vez, falando sobre eles, eu dissera esta frase: «Estes confundem uma celebração litúrgica com uma escola de samba». Isto disse eu. Eu me arrependi. Depois conheci melhor. 

Verdade é também que o movimento, com bons conselheiros, fez uma boa estrada. E agora penso que esse movimento faz muito bem à Igreja, em geral. Em Buenos Aires, eu convocava-lhes frequentemente e uma vez por ano eu celebrava uma Missa com todos eles na catedral. Eu sempre lhes favoreci, depois que me converti, quando eu vi o bem que faziam. Porque, neste momento da Igreja – e aqui alargo um pouco a resposta –, eu acho que os movimentos são necessários. Os movimentos são uma graça do Espírito. «Mas como é possível subsistir um movimento que é tão livre?» Também a Igreja é livre! O Espírito Santo faz aquilo que quer. Além disso, o trabalho d’Ele é fazer harmonia. Mas eu acho que os movimentos sejam uma graça, aqueles movimentos que têm o espírito da Igreja. Por isso, creio que o movimento da Renovação Carismática sirva não só para evitar que alguns passem às confissões pentecostais; mas é útil à própria Igreja! Nos renova. E cada um procura o próprio movimento, de acordo com o seu carisma, onde o Espírito o conduz.

Pergunta de fora.

Papa Francisco: Eu estou cansado.

Padre Lombardi: Agora Guénois, de Le Figaro, pelo grupo francês.

Jean-Marie Guénois: Santo Padre, uma pergunta que é também do meu colega de La Croix: O senhor disse que a Igreja, sem a mulher, perde fecundidade. Que medidas concretas tomará? Por exemplo, o diaconato feminino ou uma mulher à frente de um dicastério? E uma pequena pergunta técnica: O senhor disse que estava cansado; tem um tratamento especial para o retorno? Obrigado, Santidade!

Papa Francisco: Comecemos pela última. Não há nenhum tratamento especial neste avião. Eu estou na frente, em uma bela poltrona, comum, mas comum, aquela que todos têm. Eu mandei escrever uma carta e fazer um telefonema para dizer que eu não queria um tratamento especial no avião: é claro? 

Segundo, a mulher. Uma Igreja sem as mulheres é como o Colégio Apostólico sem Maria. O papel das mulheres na Igreja não é só a maternidade, a mãe de família, mas é mais forte: é precisamente o ícone da Virgem Maria, de Nossa Senhora; aquela que ajuda a Igreja a crescer. Mas pensem que Nossa Senhora é mais importante que os Apóstolos! É mais importante! A Igreja é feminina: é Igreja, é esposa, é mãe. Mas, na Igreja, a mulher não deve apenas... - não sei como dizer em italiano – o papel da mulher na Igreja não deve circunscrever-se a ser mãe, trabalhadora... Limitá-la não! É outra coisa! 

Mas os Papas... Paulo VI escreveu uma coisa bonita sobre as mulheres, mas acho que se deve avançar mais na explicitação deste papel e carisma da mulher. Você não pode entender uma Igreja sem mulheres, mas mulheres ativas na Igreja, com o seu perfil, que fazem avançar. Vem-me à mente um exemplo que não tem nada a ver com a Igreja, mas é um exemplo histórico: na América Latina, o Paraguai. Para mim, a mulher do Paraguai é a mulher mais gloriosa da América Latina. Você é paraguaio? Após a guerra, ficaram oito mulheres para cada homem, e essas mulheres fizeram uma escolha um pouco difícil: a escolha de ter filhos para salvar a pátria, a cultura, a fé e a língua. 

Na Igreja, temos de pensar a mulher sob essa perspectiva de escolhas arriscadas, mas como mulheres. Isso deve ser explicitado melhor. Eu acho que ainda não se fez uma profunda teologia da mulher na Igreja. Limitamo-nos a dizer que pode fazer isto, pode fazer aquilo, agora faz a coroinha, depois faz a Leitura, é a presidente da Caritas... Mas, há muito mais! É necessário fazer uma profunda teologia da mulher. Isso é o que eu penso.



Padre Lombardi: Pelo grupo espanhol, temos agora Pablo Ordaz, de El País:

Pablo Ordaz: Gostaríamos de saber como é sua relação de trabalho, e não só de amizade e colaboração, com Bento XVI – nunca antes houve uma situação semelhante –, saber se você tem contatos frequentes e se ele lhe está ajudando neste trabalho. Muito obrigado!

Papa Francisco: Creio que a última vez que houve dois Papas, ou três Papas, eles não se falavam; eles estavam brigando entre si para ver quem era o verdadeiro. Chegaram a ser três, durante o Cisma do Ocidente. Há uma coisa que qualifica a minha relação com Bento: eu o amo muito. Sempre o amei. Para mim, ele é um homem de Deus, um homem humilde, um homem que reza. Fiquei tão feliz, quando ele foi eleito Papa. Mesmo quando renunciou, foi para mim um exemplo de grandeza! Um grande. Só um grande faz isso! Um homem de Deus e um homem de oração. 

Agora ele vive no Vaticano, e alguns dizem para mim: Como é possível chegar a isto? Dois Papas, no Vaticano! Mas ele não lhe estorva? Ele não move revolução contra você? Enfim, todas essas coisas que dizem, não? Eu encontrei uma frase para explicar isto: «É como ter o avô em casa», mas o avô sábio. É como, numa família, quando o avô está em casa, quando é venerado, amado, ouvido. Ele é um homem de prudência! Não se intromete. 

Eu lhe disse tantas vezes: «Santidade, receba, viva a sua vida, venha conosco». Ele veio para a inauguração e a bênção da estátua de São Miguel. Bem, aquela frase diz tudo. Para mim, é como ter o avô em casa: o meu pai. Se eu tivesse uma dificuldade ou uma coisa que não entendia, telefonaria: «Mas – me diga – eu posso fazer assim, isso?». E quando eu fui para falar sobre aquele problema sério de Vatileaks, ele me contou tudo com uma grande simplicidade... como se estivesse ao serviço. Há uma coisa que não sei se vocês a sabem, eu acho que sim, mas não tenho a certeza: quando ele nos falou, no discurso de despedida, em 28 de fevereiro, disse-nos: «Entre vós, está o próximo Papa: eu lhe prometo obediência». Mas é um grande; este é um grande!

Padre Lombardi: Agora vamos dar a palavra novamente a uma brasileira, Anna Ferreira; aproxime-se também Gian Guido Vecchi, pelo grupo italiano.

Anna Ferreira: Santo Padre, boa noite. Obrigado. Eu gostaria de dizer «obrigado» muitas vezes: obrigado porque você trouxe tanta alegria para o Brasil, e obrigado também por responder às nossas perguntas. Nós, jornalistas, gostamos muito de fazer perguntas. Queria saber o motivo por que ontem você falou aos bispos brasileiros sobre a participação das mulheres em nossa Igreja. Eu queria entender melhor: como deve ser esta participação de nós, mulheres, na Igreja? O que você acha também da ordenação das mulheres? Qual deve ser a nossa posição na Igreja?

Papa Francisco: Eu queria explicar um pouco mais o que eu disse sobre a participação das mulheres na Igreja: não pode ser limitada ao fato que faça a coroinha ou a presidente da Caritas, a catequista... Não! Deve ser mais, mas profundamente mais, inclusive misticamente mais, juntamente com aquilo eu já disse da teologia da mulher. 

E, quanto à ordenação das mulheres, a Igreja falou e disse: «Não». Disse isso João Paulo II, mas com uma formulação definitiva. Aquela porta está fechada. Mas, a propósito disso, eu quero dizer-lhe uma coisa. Eu já disse isso, mas repito. Nossa Senhora, Maria, era mais importante que os Apóstolos, os bispos, os diáconos e os presbíteros. A mulher, na Igreja, é mais importantes que os bispos e os presbíteros; o como é que devemos procurar explicitar melhor, porque eu acho que falta uma explicação teológica disso. Obrigado.

Padre Lombardi: Gian Guido Vecchi, do Corriere della Sera. Peço para se aproximarem a senhora Pigozzi e Nicole... depois.

Gian Guido Vecchi: Santo Padre, também nesta viagem falou várias vezes de misericórdia. A propósito do acesso aos sacramentos para os divorciados que voltaram a casar, há possibilidades que algo mude na disciplina da Igreja? Que esses sacramentos sejam uma ocasião para aproximar essas pessoas, em vez de uma barreira que os separa dos outros fiéis?

Papa Francisco:  Este é um tema que sempre pedem. A misericórdia é maior do que aquele caso que o senhor põe. Eu creio que este seja o tempo da misericórdia. Esta mudança de época e também os muitos problemas da Igreja – como um testemunho não bom de alguns padres, problemas mesmo de corrupção na Igreja, também o problema do clericalismo, só para exemplificar – deixaram muitos feridos, muitos feridos. 

E a Igreja é Mãe: deve ir curar os feridos, com misericórdia. Mas, se o Senhor não se cansa de perdoar, nós não temos outra escolha além desta: em primeiro lugar, curar os feridos. É mãe, a Igreja, e deve seguir por esse caminho de misericórdia. E encontrar uma misericórdia para todos. Mas eu acho que, quando o filho pródigo voltou para casa, o pai não lhe disse: «Mas ouça, ponha-se cômodo: o que você fez com o dinheiro?» Não! Ele fez festa! Talvez depois, quando o filho quis falar, ele falou. 

A Igreja deve fazer assim. Quando há pessoas... não se limitar a esperar por elas, mas sair ao seu encontro! Esta é a misericórdia. E eu penso que este seja um kairós: este tempo é um kairós de misericórdia. Mas o primeiro que teve esta intuição foi João Paulo II: quando ele começou com Faustina Kowalska, com a Divina Misericórdia... tinha algo em mente, ele intuíra que era uma necessidade deste tempo. Relativamente ao problema da Comunhão para as pessoas em segunda união – já que os divorciados podem ir à Comunhão, não há problema – mas, quando eles vivem em segunda união, não podem. Eu acho que é necessário estudar isso na totalidade da pastoral do matrimônio. E por isso é um problema. 

Mas os próprios ortodoxos – e aqui abro um parêntese – têm uma prática diferente. Eles seguem a teologia da economia, como eles dizem, e dão uma segunda possibilidade, permitem-no. Mas eu acho que este problema – e fecho o parêntese – deve ser estudado no quadro da pastoral do matrimônio. E, para isso, temos duas coisas: primeira, um dos temas a consultar a estes oito cardeais do Conselho dos Cardeais, com quem nos reuniremos nos dias 1, 2 e 3 de outubro, é como avançar na pastoral do matrimônio, e este problema será lançado lá. 

E uma segunda coisa: esteve comigo, quinze dias atrás, o secretário do Sínodo dos Bispos, para ver o tema do próximo Sínodo. O tema seria antropológico, mas olhando-o de um lado e de outro, indo e vindo, encontramos este tema antropológico: a fé como ajuda no planejamento da pessoa, mas na família para se debruçar depois sobre a pastoral do matrimônio. Estamos a caminho de uma pastoral do matrimônio um pouco mais profunda. E este é um problema de todos, porque há muitos, não? 

Por exemplo – digo apenas um – o cardeal Quarracino, meu predecessor, dizia que para ele metade dos matrimônios são nulos. Mas dizia isso, porquê? Porque casam-se sem maturidade, casam-se sem notarem que é para toda a vida, ou casam-se porque socialmente se devem casar. E com isso tem a ver a própria pastoral do matrimônio. E também o problema judicial da nulidade dos matrimônios: isso deve ser revisto, porque os Tribunais eclesiásticos não são suficientes para isso. É complexo o problema da pastoral do matrimônio. Obrigado!

Padre Lombardi: Obrigado. Agora temos a senhora Pigozzi, do Paris Match, que é ainda do grupo francês…

Caroline Pigozzi: Boa noite, Santo Padre. Queria saber se, desde que é Papa, se sente ainda jesuíta…

Papa Francisco: Trata-se de uma questão teológica, porque os jesuítas fazem voto de obedecer ao Papa. Mas, se o Papa for jesuíta, será que deve fazer voto de obedecer ao Geral dos jesuítas? Eu não sei como se resolve isso... Eu sinto-me jesuíta em minha espiritualidade; na espiritualidade dos Exercícios, a espiritualidade, aquela que eu tenho no coração. E tanto me sinto assim que, dentro de três dias, irei celebrar com os jesuítas a festa de Santo Inácio: celebrarei de manhã a Missa. Eu não mudei de espiritualidade, não. Francisco, sim; franciscano, não. Sinto-me jesuíta e penso como jesuíta. Não hipocritamente, mas penso como jesuíta. Obrigado, senhora!

Padre Lombardi: Se você ainda tiver forças, há ainda qualquer pergunta. Agora, Nicole Winfield, que é da Associated Press, e há... Mas não era... Bem, eu tenho uma lista e aqui verdadeiramente... Pensava que vocês se tinham organizado. Está bem, Elizabetta! Ponha-se você também na lista. Desculpe.

Nicole Winfield: Santidade, obrigado mais uma vez por ter vindo «ao meio dos leões». Santidade, no quarto mês do seu pontificado, eu queria pedir-lhe para fazer um pequeno balanço. Pode-nos dizer qual foi a coisa melhor de ser Papa, algum detalhe engraçado, qual foi a pior, e qual foi a coisa que mais lhe surpreendeu nesse período?

Papa Francisco: Mas eu não sei como responder a isso, verdadeiramente. Coisas ruins, ruins não houve. Coisas bonitas, sim! Por exemplo, o encontro com os Bispos italianos foi muito bom, muito bom. Como Bispo da capital de Itália, me senti em casa com eles. E isso foi bom, mas não sei se tenha sido o melhor. Depois uma coisa dolorosa, mas que penetrou fundo no meu coração, foi a visita a Lampedusa. Essa é caso de chorar, mas fez-me bem aquilo. Quando chegam estes barcos, deixam-nos a algumas milhas de distância da costa e eles têm que chegar sozinhos com o barco. Isso me faz pena, porque penso que essas pessoas são vítimas de um sistema sócio-econômico mundial.

 Mas a coisa pior – desculpe – que me veio foi uma dor ciática – é verdade! – que tive no primeiro mês, porque, para dar entrevistas, me sentava em uma poltrona e isso fez-me um pouco de mal. É uma dor ciática dolorosíssima, dolorosíssima! Não a desejo a ninguém! Mas outras coisas como falar com as pessoas, o encontro com os seminaristas e as religiosas foram lindas, muito lindas. Também o encontro com os estudantes dos colégios jesuítas foi belíssimo. Enfim... coisas boas!

PerguntaQual é a coisa que mais tem surpreendido o senhor?

Papa Francisco: As pessoas, as pessoas, as pessoas boas que eu encontrei. Encontrei tantas pessoas boas no Vaticano. Eu pensei no que digo; mas é verdade. É um dever de justiça dizê-lo: tantas pessoas boas. Muitas pessoas boas, tantas pessoas boas, mas boas, boas, boas!

Padre Lombardi: Agora Elisabetta... Santidade, esta já a conhece e também Sergio Rubini. Talvez possa aproximar-se; assim temos os argentinos.

Elisabetta Piqué: Papa Francisco, antes de mais nada em nome dos cinquenta mil argentinos que encontrei lá e me disseram: «Você vai viajar com o Papa; por favor, diga-lhe que ele foi fantástico, estupendo; pergunte a ele quando virá... Mas Vossa Santidade já disse que não irá. Por isso, lhe faço uma pergunta mais difícil: Ficou assustado quando viu o informe sobre Vatileaks?

Papa Francisco: Não! Deixe-me contar-lhe uma história sobre o informe «Vatileaks». Quando eu fui encontrar Papa Bento, depois de termos rezado na capela, fomos ao escritório dele e eu vi uma grande caixa e um envelope grande. E Bento disse-me: «Nesta caixa grande, estão todas as declarações, as coisas que disseram as testemunhas, está tudo ali. Mas o resumo e o julgamento final estão neste envelope. E aqui se diz isto..., isto... e isto...» Ele tinha tudo na cabeça! Mas que inteligência! Tudo na memória, tudo! Não me assustei, não. É um problema sério! Mas não me assustei.

Sergio Rubín: Santidade, duas coisas. A primeira é esta: o senhor insistiu em travar a perda de fiéis. No Brasil, foi muito forte. Espera que esta viagem contribua para que as pessoas voltem à Igreja e a sintam mais próxima? E a segunda, mais familiar: o senhor gostava muito da Argentina, e tinha bem dentro do coração Buenos Aires. Os argentinos se perguntam se o senhor não sinta tanta falta desta Buenos Aires, que percorria nos ônibus, nos autocarros, caminhava pelas ruas. Muito obrigado!

Papa Francisco: Eu acredito que uma viagem papal faz sempre bem. E eu acho que, no Brasil, isso vai fazer bem, e não somente a presença do Papa, mas aquilo que foi feito nesta Jornada Mundial da Juventude: eles mobilizaram-se e farão muito bem, certamente ajudarão tanto a Igreja. Entretanto estes fiéis que saíram, muitos deles não são felizes, porque sentem que pertencem à Igreja. Penso que isso será positivo não só devido à viagem, mas sobretudo à Jornada: a Jornada foi um evento maravilhoso. Quanto a Buenos Aires, é verdade que às vezes me falta. Isso sinto. Mas é uma carência serena, é uma carência serena, é uma carência serena. Eu creio que você, Sergio, me conheça melhor que todos os outros; você pode responder a esta pergunta. Com o livro que escreveu!

Padre Lombardi: Agora temos o russo e, em seguida, havia Valentina, que é a decana e queria ela encerrar.

Alexey Bukalov: Boa noite, Santo Padre. Santo Padre, voltando ao ecumenismo: hoje os ortodoxos celebram 1025 anos de cristianismo; haverá grandes celebrações em muitas capitais. Se quiser fazer um comentário sobre este fato, deixar-me-á feliz com isso. Obrigado.

Papa Francisco: Nas Igrejas ortodoxas, foi conservada aquela primitiva liturgia, tão bela. Nós perdemos um pouco o sentido da adoração; elas conservam-no, elas louvam a Deus, elas adoram a Deus, cantam, o tempo não conta. O centro é Deus, e esta é uma riqueza que gostava de sublinhar nesta ocasião em que você me faz essa pergunta. Certa vez, falando da Igreja do Ocidente, da Europa Ocidental, sobretudo a Igreja mais crescida, me foi dita esta frase: «Lux ex oriente, ex ocidente luxus».  

O consumismo, o bem-estar fizeram-nos muito mal. Vocês, pelo contrário, mantiveram no centro essa beleza de Deus, como referência. Quando se lê Dostoiévski – eu acho que é, para todos nós, um autor que devemos ler e reler, porque tem uma sabedoria – percebe-se qual é a alma russa, a alma oriental. É algo que nos fará muito bem. Precisamos dessa renovação, desse ar fresco do Oriente, dessa luz do Oriente. João Paulo II escreveu isso em sua Carta. Mas, muitas vezes, o luxus do Ocidente nos faz perder o horizonte. Não sei, mas o que me ocorre dizer é isto: Obrigado!

Padre Lombardi: E então encerramos com Valentina; visto que tinha começado na viagem de ida, agora conclui na viagem de regresso.

Valentina Alazraki: Santidade, obrigado por ter mantido a promessa de responder às nossas perguntas no regresso…

Papa Francisco: Fiz-lhes demorar o jantar

Valentina Alazraki: Não importa, não importa. Bem, a pergunta de todos os mexicanos seria: Quando vai a Guadalupe? Mas essa é dos mexicanos, a minha seria: Vossa Santidade irá canonizar dois grandes Papas, João XXIII e João Paulo II; eu queria saber qual é – a seu modo de ver – o modelo de santidade que sobressai num e noutro e qual é o impacto que eles tiveram na Igreja e na vida do senhor.

Papa Francisco: João XXIII é um pouco a figura do «padre da aldeia», o padre que ama a cada um dos fiéis, que sabe cuidar dos fiéis e fez isso como bispo, como núncio. Se soubessem quantas certidões falsas de Batismo passou na Turquia a favor dos judeus! É um corajoso, um padre de aldeia bom, com um sentido de humorismo muito grande, muito grande, e uma grande santidade. Quando era núncio, havia alguns no Vaticano que não gostavam muito dele e quando ele chegava para trazer coisas ou pedir, em alguns serviços faziam-no esperar. Nunca se lamentou: rezava o terço, lia o Breviário…, nunca se lamentou! Um manso, um humilde, e também um que se preocupava com os pobres. 

Quando o Cardeal Casaroli voltou de uma missão na Hungria ou no território da Checoslováquia de então – não me lembro qual das duas –, foi ter com ele para explicar-lhe como andara a missão, naquele período da diplomacia dos «pequeno passos». E houve a audiência – João XXIII morria 20 dias depois – e quando Casaroli estava saindo, ele o parou: «Ah Eminência – não, não era Eminência – Excelência, uma pergunta: o senhor continua a visitar aqueles adolescentes?» (é que Casaroli ia ao cárcere juvenil de Casal del Marmo e jogava com eles). E Casaroli disse: «Sim, sim!» «Nunca lhes abandone». Isso disse João XXIII a um diplomata, que acabava de fazer um périplo de diplomacia, uma viagem tão empenhativa: «O senhor nunca abandone aqueles adolescentes». É um grande, um grande! 

Depois o evento do Concílio: é um homem dócil à voz de Deus, porque aquilo lhe veio do Espírito Santo; lhe veio e ele foi dócil. Pio XII pensava em fazê-lo, mas as circunstâncias não estavam ainda maduras para isso. Eu acho que este [João XXIII] não pensara nas circunstâncias: ele sentia aquilo e fê-lo. Um homem que se deixava guiar pelo Senhor. De João Paulo II, apetece-me chamar-lhe «o grande missionário da Igreja»: é um missionário, é um missionário, um homem que levou o Evangelho a toda a parte; sabem-no melhor vocês do que eu. Quantas viagens ele fez? Ia! Ele sentia este fogo de fazer avançar a Palavra do Senhor. É um Paulo, é um São Paulo, é um homem assim; e isso para mim é grande. 

E acho que fazer a cerimônia de canonização dos dois juntos seja uma mensagem para a Igreja: estes dois são bons, eles são bons, são dois bons. Mas estão em curso as causas de Paulo VI e também do Papa Luciani: as causas destes dois estão em andamento. Uma coisa mais – creio que já a disse, mas não sei se aqui ou em outra parte –: a data de canonização. Pensava-se no dia 8 de dezembro deste ano, mas levanta-se um problema sério: aqueles que vêm da Polônia, os pobres – porque aqueles que têm meios podem vir de avião – mas os pobres que querem vir fazem-no de ônibus; e, em Dezembro, as estradas já têm neve, acho que devemos repensar a data. Falei com o cardeal Dziwisz e ele me sugeriu duas possibilidades: o Cristo Rei deste ano, ou o domingo da Misericórdia do próximo ano. Eu acho que é um tempo curto o Cristo Rei deste ano, porque o Consistório será em 30 de setembro e, até ao final de outubro, há pouco tempo. Não sei, tenho de falar com o cardeal Amato sobre isso. Mas penso que não vai ser em 8 de dezembro.

Pergunta: Mas serão canonizados juntos?

Papa Francisco: Os dois juntos, sim.

Padre Lombardi: Obrigado, Santidade. Quem temos ainda? Ilze? Bem, com ela, teremos dado a palavra a todos mesmo, até mais dos que inicialmente se inscreveram

Ilze Scamparini: Queria pedir licença para fazer uma pergunta um pouco delicada: outra imagem que também girou um pouco pelo mundo, foi a de Mons. Ricca e as notícias sobre a sua intimidade. Queria saber, Santidade, que pensa fazer em relação a este assunto? Como enfrentar esta questão e como Vossa Santidade pensa abordar toda a questão da lobby gay.

Papa Francisco: No caso de Mons. Ricca; eu fiz aquilo que o Direito Canônico manda fazer, ou seja, a investigatio previa. E, a partir desta investigatio, não há nada de quanto o acusam, não encontramos nada sobre isso. Esta é a resposta. Mas eu queria acrescentar mais uma coisa sobre isso: eu vejo que muitas vezes na Igreja, fora deste caso e também neste caso, vão-se procurar, por exemplo, os «pecados de juventude» e isso é publicado. Não se trata de delitos, atenção; os delitos são coisa diferente: o abuso de menores é um delito. Não se trata disso, mas de pecados. 

Ora, se uma pessoa – leigo, sacerdote ou religiosa – cometeu um pecado e depois se converteu, o Senhor perdoa; e quando o Senhor perdoa, o Senhor esquece. E isso é importante para a nossa vida. Quando vamos nos confessar e dizemos, com verdade, «eu pequei nisto», o Senhor esquece e nós não temos o direito de não esquecer, porque corremos o risco de que o Senhor também não se esqueça dos nossos [pecados]. Isso é um perigo. Isso é importante: a teologia do pecado. Muitas vezes eu penso em São Pedro: fez um dos piores pecados, que é renegar a Cristo, e com este pecado Cristo o fez Papa. Devemos pensar muito. 

Mas, voltando à sua pergunta mais concreta: neste caso, eu fiz a investigatio previa e nada encontramos. Esta era a primeira pergunta. Depois, você falava da lobby gay. Bem! Escreve-se muito sobre a lobby gay. Eu ainda não encontrei ninguém com o bilhete de identidade no Vaticano dizendo que é «gay». Dizem que há. Eu acho que, quando alguém se encontra com uma pessoa assim, deve distinguir entre o fato de que uma pessoa seja gay e o fato de formar uma lobby, porque as lobby nem todas são boas. Isso é mau. 

Se uma pessoa é gay e procura o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para a julgar? O Catecismo da Igreja Católica explica isso muito bem, dizendo – esperem um pouco… como diz... -: «Não se devem marginalizar estas pessoas por isso, devem ser integradas na sociedade». O problema não é ter essa tendência, não; devemos ser irmãos, porque este é apenas um; mas se há mais outro, outro. O problema é fazer lobby dessa tendência: lobby de gananciosos, lobby de políticos, lobby dos maçons, tantas lobby. A meu ver, este é o problema mais grave. E lhe agradeço muito por ter feito esta pergunta. Muito obrigado!

Padre Lombardi: Obrigado. Parece-me que mais do que isto não se podia fazer. Abusamos até do Papa, que nos dissera que já estava um pouco cansado e lhe desejamos que descanse um pouco agora.

Papa Francisco: Obrigado a vocês e boa noite, boa viagem e bom descanso.

JMJ RIO 2013: ENCONTRO DO PAPA FRANCISCO COM OS JORNALISTAS DURANTE O VÔO DE REGRESSO - PARTE I


VISITA APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO BRASIL
POR OCASIÃO DA XXVIII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

ENCONTRO DO SANTO PADRE COM OS JORNALISTAS
DURANTE O VÔO DE REGRESSO

Domingo, 28 de Julho de 2013



Padre Lombardi

Queridos amigos, temos a alegria de ter conosco, nesta viagem de regresso, o Santo Padre Francisco; foi tão gentil que nos disponibilizou um bom espaço de tempo para fazer conosco um balanço da viagem e responder com total liberdade às perguntas de vocês. Eu dou-lhe a palavra para uma pequena introdução e depois começamos com a lista daqueles que se inscreveram para falar tomando um pouco dos diferentes grupos nacionais e lingüísticos. 

Então a palavra a Vossa Santidade para começar.

Papa Francisco:
Boa noite e muito obrigado. Eu estou feliz. Foi uma bela viagem; espiritualmente fez-me bem. Estou bastante cansado, mas com o coração alegre, e estou bem, muito bem; fez-me bem espiritualmente. Encontrar as pessoas faz bem, porque o Senhor trabalha em cada um de nós, trabalha no coração, e a riqueza do Senhor é tão grande que sempre podemos receber muitas coisas bonitas dos outros. E isso faz-me bem. Isto, como um primeiro balanço. 

Depois direi que a bondade, o coração do povo brasileiro é grande; é verdade: é grande. É um povo muito amável, um povo que ama a festa; um povo que, mesmo na tribulação, sempre encontra uma estrada para buscar o bem em algum lugar. E isso é bom: é um povo alegre, o povo sofreu tanto! É contagiosa a alegria dos brasileiros, é contagiosa! E tem um grande coração, este povo. 

Depois diria os organizadores, tanto da nossa parte, como da parte dos brasileiros; eu senti que me encontrava na frente de um computador, aquele computador em carne e osso... É a pura verdade! Estava tudo cronometrado, não estava? Mas era belo. Depois, tivemos problemas com as hipóteses de segurança: a segurança daqui, a segurança de lá; não houve um incidente em todo o Rio de Janeiro, nestes dias, e tudo era espontâneo. 

Com menos segurança, eu pude estar com a gente, abraçá-la, saudá-la, sem carros blindados... é a segurança de confiar em um povo. É verdade que existe sempre o perigo que haja um louco... sim, que haja um louco que faça alguma coisa; mas há também o Senhor! Entretanto criar um espaço blindado entre o bispo e o povo é uma loucura, e eu prefiro aquela loucura: estar fora e correr o risco da outra loucura. Prefiro esta loucura: fora. A proximidade faz bem a todos.

Em seguida, a organização da Jornada, não me refiro a algo de específico, mas tudo: a parte artística, a parte religiosa, a parte catequética, a parte litúrgica... foi lindíssimo! Eles têm uma capacidade enorme de expressar-se na arte. Ontem, por exemplo, fizeram coisas lindíssimas, lindíssimas! Depois, Aparecida: para mim, Aparecida é uma experiência religiosa intensa. Lembro-me da V Conferência; eu tinha estado lá a rezar, a rezar. Eu queria ir sozinho, passar quase despercebido, mas havia uma multidão impressionante… Não era possível! Isso já o sabia antes de chegar. E nós oramos. Eu não sei... uma coisa... mas agora da parte de vocês. Seu trabalho, segundo me dizem – eu não li os jornais nestes dias, não tinha tempo, não vi a TV, nada - mas dizem-me que foi um trabalho bom, bom, bom! 

Obrigado! Obrigado pela cooperação, obrigado pelo que fizeram! Depois, o número, o número dos jovens. Hoje - eu nem posso crer – mas hoje o Governador falava de três milhões. Quase não posso acreditar. Mas olhando do altar - isso é verdade! – não sei se vocês, alguns de vocês estiveram no altar: olhando do altar, no final, toda a praia estava cheia, até a curva; mais de quatro quilômetros. Tantos jovens! E dizem – disse-me Dom Tempesta – que eram de 178 países… 178! Também o Vice-Presidente disse-me este número: isso é certo. É importante! Forte!

ENCONTRO DO SANTO PADRE COM OS JORNALISTAS

Padre Lombardi: Obrigado. Então, vamos dar a palavra, primeiro, a Juan de Lara, que é da EFE e é espanhol, senda esta a última viagem que faz conosco; por isso nos deixa contentes dar-lhe esta possibilidade.

Juan de Lara: Santidade, boa noite. Em nome de todos os colegas, quero agradecer-lhe por estes dias que nos presenteou no Rio de Janeiro, pelo trabalho que fez e o esforço que investiu. E também, em nome de todos os jornalistas espanhóis, queremos agradecer-lhe as orações e os gestos pelas vítimas do incidente ferroviário de Santiago de Compostela. Muitíssimo obrigado! A primeira questão tem pouco a ver com a viagem, mas, aproveitando esta oportunidade que me é dada, queria perguntar-lhe: Santidade, nestes quatro meses de Pontificado, vimos que criou várias Comissões para a reforma da Cúria. Queria saber: Que tipo de reforma tem em mente, contempla a possibilidade de suprimir o IOR, o chamado Banco do Vaticano? Obrigado!

Papa Francisco: Os passos que fiz nestes quatro meses e meio derivam de duas vertentes: o conteúdo daquilo que se devia fazer, tudo, vem da vertente das Congregações Gerais dos Cardeais. Eram coisas que nós, Cardeais, tínhamos pedido àquele que haveria de tornar-se o novo Papa. Eu me lembro que pedi muitas coisas, pensando que seria outro... 

Pedíamos, por exemplo, para se fazer isso: a Comissão de oito Cardeais; sabemos que é importante ter um Organismo Consultivo externo, não os organismos consultivos que já existem, mas de fora. Isso põe-se cada vez na linha - aqui eu faço como que uma abstração, pensando, mas faço-o para explicá-lo – na linha do amadurecimento da relação entre sinodalidade e primado. Ou seja, estes oito Cardeais favorecem a sinodalidade, ajudam os diversos episcopados do mundo para se expressarem no próprio governo da Igreja. 

Há muitas propostas que foram feitas, mas que ainda não foram postas em prática, tais como a reforma da Secretaria do Sínodo, na metodologia; que a Comissão pós-Sinodal tenha caráter permanente de consulta; os Consistórios cardinalícios, com temáticas menos formais como, por exemplo, a canonização, mas também outras temáticas, etc. Ora bem, a vertente dos conteúdos vem de lá! 

A segunda vertente é a oportunidade. Confesso-lhes que para mim não me custou ver como primeiro ponto, no primeiro mês de Pontificado, organizar a Comissão dos oito Cardeais. A parte econômica, pensava tratá-la no próximo ano, porque não é a coisa mais importante que havia necessidade de tratar. Mas a agenda mudou por causa das circunstâncias que vocês conhecem e são de domínio público; surgiram problemas que tinham de ser enfrentados. 

O primeiro: o problema do IOR, ou seja, como orientá-lo, como delineá-lo, como reformulá-lo, como sanar aquilo que há para sanar. E aqui aparece a primeira Comissão de Referência – este é o seu nome. Vocês conhecem o Quirógrafo: o que se lhe pede, aqueles que a integram, tudo. Depois, tivemos a reunião da Comissão dos 15 Cardeais que ocupam-se dos aspectos econômicos da Santa Sé. Eles provêm de todas as partes do mundo. E foi lá, ao preparar esta encontro, que viu-se a necessidade de fazer uma única Comissão de Referência para toda a economia da Santa Sé. Isto é, foi enfrentado o problema econômico que estava fora da Agenda. 

São coisas que acontecem: quando na função de governo um vai para um lado mas jogam-lhe a bola do outro lado, e deve agarrá-la. Não é assim? Por conseguinte, a vida é assim, mas também isso faz a beleza da vida. Repito a pergunta que me fez a respeito do IOR… (Desculpem, estou lhes falando em castelhano. Desculpem, mas espontaneamente a resposta vinha-me em castelhano). 

Relativamente à pergunta que me fazia sobre o IOR, eu não sei como vai ficar o IOR. Alguns dizem que é melhor talvez que seja um banco, outros que seja um fundo de ajuda, outros dizem para fechá-lo. Bem! Ouvem-se essas vozes. Eu não sei. Eu tenho confiança no trabalho das pessoas do IOR que estão trabalhando sobre isso, incluindo a Comissão. O Presidente do IOR continua o mesmo que era antes, enquanto o Diretor e o Vice-Diretor pediram a demissão. Mas sobre isso, eu não saberei dizer-lhe como vai acabar essa história; e também isto é bom, porque se procura, se encontra; nós somos humanos nisto; devemos encontrar o melhor. Entretanto não há dúvida que as características do IOR – seja ele banco, seja fundo de ajuda ou qualquer outra coisa que seja – hão de ser transparência e honestidade. Assim ele deve ser. Obrigado!

Padre Lombardi: Muito obrigado, Santidade. Agora passamos para uma pessoa representante do grupo italiano, uma pessoa que o Santo Padre conhece bem: Andrea Tornielli, que lhe faz uma pergunta em nome do grupo italiano.

Andrea Tornielli: Santo Padre, eu tenho uma pergunta talvez um pouco indiscreta: correu o mundo a fotografia de Vossa Santidade que, à nossa partida, sobe a escada do avião carregando uma mala preta, e houve artigos em todo o mundo que comentaram esta novidade: sim, o Papa está subindo... digamos que nunca aconteceu que o Papa subisse como a sua bagagem de mão. Houve mesmo hipóteses sobre o conteúdo da mala preta. Então, minhas perguntas são: primeiro, porque o senhor carregou a sua mala preta e não a levou um colaborador, e segundo, pode nos dizer o que levava dentro... Obrigado.

Papa Francisco: Não tinha a chave da bomba atômica! Bem! Eu a levei, porque sempre assim fiz: quando viajo, levo-a eu. Que tinha dentro? Tinha um barbeador, tinha o breviário, tinha a agenda, tinha um livro para ler – levei um sobre Santa Teresinha de que sou devoto. Eu sempre levei minha mala quando viajo: é normal. Devemos ser normais... Não sei... para mim é um pouco estranho isso que você me diz, que correu o mundo aquela fotografia. Temos de nos habituar a ser normais. A normalidade da vida. Não sei, Andrea, se lhe respondi…

Padre Lombardi: Agora vamos dar a palavra a uma representante de língua portuguesa, Aura Miguel, que é da Rádio Renascença:

Aura Miguel: Santidade, eu queria lhe perguntar por que motivo pede com tanta insistência para rezarmos pelo senhor. Não é normal, usual, ouvir um Papa pedir assim tanto para rezar por ele…

Papa Francisco: Eu sempre pedi isso. Quando era presbítero, pedia isso, mas não com tanta freqüência; comecei a pedi-lo com uma certa freqüência no trabalho de bispo, porque eu sinto que, se não é o Senhor sustentar neste trabalho de ajudar o povo de Deus a avançar, uma pessoa não consegue… Eu me sinto verdadeiramente com muitas limitações, com muitos problemas, sinto-me também pecador – vocês sabem disso! - e devo pedir isso. Isso me vem de dentro! Também peço a Nossa Senhora que reze por mim ao Senhor. É um hábito, mas é um hábito que vem-me do coração e também pela necessidade que tenho para o meu trabalho. Eu sinto que devo pedir... Eu não sei, é assim…

Padre Lombardi: Agora passemos para o grupo de língua inglesa, e demos a palavra ao nosso colega Pullella da Reuters, que está aqui à frente.

Philip Pullella: Santidade, em nome do grupo inglês, obrigado pela sua disponibilidade. O colega Juan de Lara já fez a pergunta que queríamos colocar; então eu continuo um pouco naquela linha… mas só um pouco: Santidade, ao procurar fazer essas mudanças, eu me lembro que o senhor disse ao grupo da América Latina que há muitos santos que trabalham no Vaticano, mas também pessoas que são um pouco menos santo, não? O Santo Padre encontrou resistências a esse seu desejo de mudar as coisas no Vaticano? Encontrou resistências? A segunda pergunta é: O senhor vive de modo muito austero, ficou em Santa Marta, etc... Vossa Santidade quer que seus colaboradores, mesmo os Cardeais, sigam esse exemplo e vivam, quem sabe, em comunidade, ou é algo apenas para o senhor?


Papa Francisco: As mudanças... as mudanças derivam também de duas vertentes: daquilo que nós, cardeais, pedimos, e daquilo que vem da minha personalidade. O senhor falava do fato de eu ter ficado em Santa Marta: mas eu não poderia viver sozinho no Palácio, que não é luxuoso. O apartamento pontifício não é muito luxuoso! É espaçoso, é grande, mas não é luxuoso. Mas eu não posso viver sozinho ou com um pequenino grupo! Preciso de gente, encontrar pessoas, falar com as pessoas...  

E por isso, quando os alunos das escolas jesuítas me fizeram a pergunta: «Por que faz isso? Por austeridade, por pobreza?», eu respondi: Não, não. É simplesmente por motivos psiquiátricos: psicologicamente eu não posso. Cada um deve levar por diante sua vida, com seu jeito de viver, de ser. Os cardeais que trabalham na Cúria não vivem como pessoas ricas e suntuosas: eles vivem em um pequeno apartamento, são austeros, eles são austeros. 

Aqueles que conheço; estes apartamentos que a APSA dá aos cardeais. Depois parece-me que há outra coisa que eu queria dizer. Cada um deve viver como o Senhor lhe pediu para viver. Mas a austeridade – uma austeridade geral -, eu acho que é necessária para todos nós que trabalhamos ao serviço da Igreja. Existem tantos matizes relativos à austeridade... cada um deve procurar o seu caminho. 

Quanto a santos, é verdade que existem santos: cardeais, padres, bispos, religiosas, leigos; pessoas orando, pessoas que trabalham tanto, e que visitam também os pobres em segredo. Eu conheço alguns que se preocupam com dar de comer aos pobres ou depois, no seu tempo livre, vão para o ministério em uma igreja ou em outra... Eles são sacerdotes. Há santos na Cúria. E também há algum que não é tão santo, e esses são os que fazem mais barulho. Vocês sabem que faz mais barulho uma árvore que cai do que uma floresta que cresce. E isso me faz sofrer, quando se dão essas coisas. 

Há alguns que dão escândalo, alguns. Nós temos este Monsenhor na cadeia; eu acho que ele ainda continua na cadeia; e não foi parar à cadeia porque se parecia precisamente com a Beata Imelda; não era um Santo. Estes são escândalos, que fazem sofrer. Uma coisa – nunca o disse, mas tenho notado isto - acho que a Cúria tem decaído um pouco do nível que possuía outrora, daqueles veteranos curiais... o perfil do veterano curial, fiel, que fazia o seu trabalho. Precisamos dessas pessoas. Eu acho que... ainda existem, mas não são tantos como outrora. O perfil do veterano curial: eu diria assim. Destes devemos ter mais. 

Se eu encontro resistências? Bem! Se há resistências, eu ainda não as vi. É verdade que eu não fiz muitas coisas; mas pode-se dizer que encontrei, isso sim, eu encontrei ajuda, e também encontrei pessoas leais. Por exemplo, eu gosto quando alguém me diz: «Eu não estou de acordo», e isso eu encontrei. «Isso não me é claro, não estou de acordo; eu digo-o, o senhor faça como melhor lhe parecer». Este é um verdadeiro colaborador. E eu encontrei isso na Cúria. E isso é bom. Mas, quando há aqueles que dizem: «Ah, que bom, que bom, que bom», e, em seguida, dizem o contrário por trás... Eu ainda não notei. Sim, talvez existam alguns, mas eu não notei. As resistências: em quatro meses, não se pode encontrar muito…

Padre Lombardi: Agora vamos passar a palavra para uma brasileira; parece-me justo. Temos, então, Patrícia Zorzan. Talvez possa aproximar-se também Izoard, de modo que depois tenhamos também um francês.

Patrícia Zorzan: Estou falando em nome dos brasileiros. A sociedade mudou, os jovens mudaram; e, no Brasil, se vêem tantos jovens. Vossa Santidade não falou sobre o aborto, sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. No Brasil, foi aprovada uma lei que alarga o direito ao aborto e permitiu o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Por que não falou sobre isso?

Papa Francisco: A Igreja já se pronunciou perfeitamente sobre isso. Não era necessário voltar, como também não falei da fraude, da mentira ou de outras coisas sobre as quais a Igreja tem uma doutrina clara!

Patrícia Zorzan: Mas é um assunto que interessa aos jovens…

Papa Francisco: sim, contudo não havia necessidade de falar sobre isso, mas das coisas positivas que abrem o caminho aos jovens. Não é verdade? Além disso, os jovens sabem perfeitamente qual é a posição da Igreja!

Patrícia Zorzan: Qual é a posição de Vossa Santidade? No-la pode dizer?

Papa Francisco: A da Igreja. Sou filho da Igreja!

Padre Lombardi: Então, voltemos ao grupo espanhol: Dario Menor Torres... Ah, desculpem! É Izoard, que já tínhamos convocado. Por isso temos agora um do grupo francês... e, em seguida, Dario Menor.

Antoine-Marie Izoard: Bom dia, Santidade. Em nome dos colegas de língua francesa do vôo: somos 9 neste vôo. Para um Papa que não quer dar entrevistas, estamos-lhe verdadeiramente gratos. Santidade, já desde 13 de março que apresenta-se como o Bispo de Roma, com uma insistência muito grande, muito intensa. Por isso nós queríamos entender qual é o sentido profundo dessa insistência: será talvez que trata-se mais de ecumenismo que de colegialidade, trata-se por acaso de ser primus inter pares da Igreja? Obrigado.

Papa Francisco: A verdade, nesse ponto, é que não se deve ir além do que diz. O Papa é bispo, Bispo de Roma; e porque é Bispo de Roma é sucessor de Pedro, Vigário de Cristo. São outros títulos, mas o primeiro título é «Bispo de Roma», e daí deriva tudo. Falar, pensar que isso queira dizer ser primus inter pares, não; isso não se segue daquele título. É simplesmente o primeiro título do Papa: Bispo de Roma. Mas temos também os outros... Eu acho que, naquilo que você disse, há algo de ecumenismo: penso que isso possa favorecer um pouco o ecumenismo. Mas, só isso…

Padre Lombardi: Agora, Dario Menor, de La Razón, de Espanha:

Dario Menor Torres: Uma pergunta sobre os seus sentimentos. Uma semana atrás, comentando a pergunta de uma criança que lhe interrogou como se sentia, e se alguém podia sonhar com ser Papa e desejar sê-lo. O senhor disse que era preciso ser louco para fazer isso. Depois de sua primeira experiência entre a multidão de pessoas, como foram esses dias no Rio, pode contar como se sente sendo Papa, se é muito duro, se está feliz em sê-lo, e ainda se, de alguma forma, aumentou sua fé ou se, pelo contrário, teve qualquer dúvida. Obrigado!

Papa Francisco: Fazer o trabalho de bispo é uma coisa bonita, é bonito. O problema é quando alguém procura aquele trabalho: isso já não é tão bonito, isso não é do Senhor. Mas, quando o Senhor chama um padre para se tornar bispo, isso é lindo. Há sempre o perigo de considerar-se um pouco superior aos outros, e não como os outros; considerar-se um pouco príncipe. São perigos e pecados. 

Mas o trabalho de bispo é bonito: é ajudar os irmãos a seguir em frente. O bispo à frente dos fiéis, para assinalar o caminho; o bispo no meio dos fiéis, para ajudar a comunhão; e o bispo atrás dos fiéis, porque muitas vezes os fiéis têm o faro do caminho. O bispo deve ser assim. A pergunta queria saber se isso me agradava... Sim, agrada-me fazer o bispo, eu gosto. Em Buenos Aires, eu era tão feliz, tão feliz! Fui feliz, é verdade. O Senhor me assistiu nisso. Mas já como padre eu fui feliz, e como bispo fui feliz. Neste sentido, digo: gosto!

Pergunta de outrem: E fazer o Papa?

Papa Francisco: Também, também! Quando o Senhor coloca lá você, se você faz aquilo que o Senhor quer, você é feliz. Este é o meu sentimento, o que eu sinto.

Padre Lombardi: Agora outro do grupo italiano: Salvatore Mazza, de Avvenire:

Salvatore Mazza: Eu não posso sequer me levantar. Peço desculpa, não consigo sequer pôr-me de pé por causa de todos os fios que tenho debaixo de meus pés. Nós vimos o senhor nos últimos dias: vimo-lo cheio de energia, mesmo já noite funda. Agora nós o estamos vendo com o avião que dança e vemos que o senhor está calmamente em pé, sem um momento de hesitação. Nós queríamos perguntar-lhe: Fala-se muito de próximas viagens; fala-se de viagem à Ásia, a Jerusalém, à Argentina. O senhor já tem um calendário mais ou menos definido para o próximo ano, ou está tudo ainda por decidir?

Papa Francisco: Definido, definido, não há nada. Mas posso dizer-lhe algumas coisas que se está pensando. Está definido – desculpe – o dia 22 de setembro, em Cagliari; depois, a 4 de outubro, em Assis. Tenho em mente, na Itália, ir visitar os meus familiares; só um dia: tomar o avião de manhã e voltar com outro à noite, porque eles, coitados, me chamam e temos um bom relacionamento; mas tudo em um dia. 

Fora da Itália: o Patriarca Bartolomeu I quer fazer um encontro para comemorar os 50 anos do encontro entre Atenágoras e Paulo VI em Jerusalém. O próprio governo israelense fez-me um convite especial para ir a Jerusalém. Acho que o mesmo fez o governo da Autoridade palestina. A isso se está pensando: não se sabe ao certo se se vai lá ou não... Depois, na América Latina, acho que não haja possibilidade alguma de voltar, porque o Papa é latino-americano, porque seria a primeira viagem à América Latina... com esta, adeus! Temos que esperar um pouco! 

Creio que se possa ir à Ásia, mas isso está tudo no ar. Tive um convite para ir ao Sri Lanka e também às Filipinas. Mas, à Ásia, tem-se que ir… Porque o Papa Bento XVI não teve tempo para ir à Ásia, e é importante. Ele foi à Austrália e também esteve na Europa e na América, mas a Ásia... Quanto à ida à Argentina: neste momento, eu acho que pode esperar um pouco, porque todas estas viagens têm uma certa prioridade. Eu queria ir a Constantinopla, em 30 de setembro, para fazer uma visita a Bartolomeu I, mas não é possível, não é possível por causa da minha agenda. O nosso encontro, vamos fazê-lo em Jerusalém.

Pergunta de outrem: Fátima?

Papa Francisco: Fátima, também há um convite para Fátima, é verdade, é verdade. Há um convite para ir a Fátima.

Pergunta de outrem: 30 de setembro ou 30 de novembro?

Papa Francisco: Novembro, novembro, Santo André.

Continua... Parte II

JMJ RIO 2013: DISCURSO DO PAPA FRANCISCO NA CERIMÔNIA DE DESPEDIDA DO BRASIL


VISITA APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO BRASIL
POR OCASIÃO DA XXVIII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE

CERIMÔNIA DE DESPEDIDA
DISCURSO DO SANTO PADRE

Aeroporto Internacional do Galeão/Antônio Carlos Jobim, Rio de Janeiro
Domingo, 28 de Julho de 2013



CERIMÔNIA DE DESPEDIDA DO BRASIL


Senhor Vice-Presidente da República,
Distintas Autoridade Nacionais, Estaduais e Locais,
Senhor Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro,
Senhores Cardeais e Irmãos no Episcopado,
Queridos Amigos!

Dentro de alguns instantes, deixarei sua Pátria para regressar a Roma. Parto com a alma cheia de recordações felizes; essas – estou certo – tornar-se-ão oração. Neste momento, já começo a sentir saudades. Saudades do Brasil, este povo tão grande e de grande coração; este povo tão amoroso. Saudades do sorriso aberto e sincero que vi em tantas pessoas, saudades do entusiasmo dos voluntários. Saudades da esperança no olhar dos jovens no Hospital São Francisco. Saudades da fé e da alegria em meio à adversidade dos moradores de Varginha. 

Tenho a certeza de que Cristo vive e está realmente presente no agir de tantos e tantas jovens e demais pessoas que encontrei nesta inesquecível semana. Obrigado pelo acolhimento e o calor da amizade que me foram demonstrados. Também disso começo a sentir saudades.

De modo particular agradeço à Senhora Presidenta, aqui representada por seu Vice-Presidente, por ter-se feito intérprete dos sentimentos de todo o povo do Brasil para com o Sucessor de Pedro. Cordialmente agradeço a meus Irmãos Bispos e seus inúmeros colaboradores por terem tornado estes dias uma celebração estupenda da nossa fé fecunda e jubilosa em Jesus Cristo. Agradeço, em especial, a Dom Orani Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro, seus Bispos Auxiliares, e Dom Raymundo Damasceno, Presidente da Conferência Episcopal. 

Agradeço a todos os que tomaram parte nas celebrações da Eucaristia e nos restantes eventos, àqueles que os organizaram, a quantos trabalharam para difundi-los através da mídia. Agradeço, enfim, a todas as pessoas que, de um modo ou outro, souberam acudir às necessidades de acolhida e gestão de uma multidão imensa de jovens, sem esquecer de tantas pessoas que, no silêncio e na simplicidade, rezaram para que esta Jornada Mundial da Juventude fosse uma verdadeira experiência de crescimento na fé. Que Deus recompense a todos, como só Ele sabe fazer!

Neste clima de gratidão e saudades, penso nos jovens, protagonistas desse grande encontro: Deus lhes abençoe por tão belo testemunho de participação viva, profunda e alegre nestes dias! Muitos de vocês vieram como discípulos nesta peregrinação; não tenho dúvida de que todos agora partem como missionários. A partir do testemunho de alegria e de serviço de vocês, façam florescer a civilização do amor. 

Mostrem com a vida que vale a pena gastar-se por grandes ideais, valorizar a dignidade de cada ser humano, e apostar em Cristo e no seu Evangelho. Foi Ele que viemos buscar nestes dias, porque Ele nos buscou primeiro, Ele nos faz arder o coração para anunciar a Boa Nova nas grandes metrópoles e nos pequenos povoados, no campo e em todos os locais deste nosso vasto mundo. 

Continuarei a nutrir uma esperança imensa nos jovens do Brasil e do mundo inteiro: através deles, Cristo está preparando uma nova primavera em todo o mundo. Eu vi os primeiros resultados desta sementeira; outros rejubilarão com a rica colheita!

O meu pensamento final, minha última expressão das saudades, dirige-se a Nossa Senhora Aparecida. Naquele amado Santuário, ajoelhei-me em prece pela humanidade inteira e, de modo especial, por todos os brasileiros. Pedi a Maria que robusteça em vocês a fé cristã, que é parte da nobre alma do Brasil, como também de muitos outros países, tesouro de sua cultura, alento e força para construírem uma nova humanidade na concórdia e na solidariedade.

O Papa vai embora e lhes diz “até breve”, um “até breve” com saudades, e lhes pede, por favor, que não se esqueçam de rezar por ele. Este Papa precisa da oração de todos vocês. Um abraço para todos. Que Deus lhes abençoe!

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