23 de Janeiro de 1998
Nos dias de hoje, infelizmente, para muitos é fácil cair num relativismo moral e numa falta de identidade de que sofrem tantos jovens, vítimas de esquemas culturais vazios de sentido ou de algum tipo de ideologia, que não oferece normas morais altas e precisas. Esse relativismo moral gera egoísmo, divisão, marginalização, discriminação, medo e desconfiança para com os outros. Mais ainda, quando um jovem vive «ao seu modo», idealiza o estrangeiro, deixa-se seduzir pelo materialismo desenfreado, perde as próprias raízes e aspira à evasão. Por isso, o vazio que estes comportamentos produzem explica muitos males que ameaçam a juventude: o álcool, a sexualidade mal vivida, o uso de drogas, a prostituição que se esconde sob diversas razões — cujas causas nem sempre são só pessoais —, as motivações fundadas no gosto ou nas atitudes egoístas, o oportunismo, a falta de um projecto sério de vida, no qual não há lugar para o matrimónio estável, além da rejeição de toda a autoridade legítima, o anelo da evasão e da emigração, fugindo do compromisso e da responsabilidade para se refugiar num mundo falso, cuja base é a alienação e o desarraigamento.
Diante desta situação, o jovem cristão que deseja manter «puro o seu caminho», firme na sua fé, sabe que é chamado e escolhido por Cristo para viver na autêntica liberdade dos filhos de Deus, que inclui não poucos desafios. Por isso, acolhendo a graça que recebe dos Sacramentos, sabe que deve dar testemunho de Cristo com o seu esforço constante por levar uma vida recta e fiel a Ele.
A fé e o agir moral estão unidos. Com efeito, o dom recebido conduz-nos a uma conversão permanente, para imitarmos Cristo e recebermos as promessas divinas. Os cristãos, ao respeitarem os valores fundamentais que configuram uma vida límpida, chegam às vezes a sofrer, inclusive de modo heróico, a marginalização ou a perseguição, uma vez que essa opção moral é oposta aos comportamentos do mundo. Este testemunho da cruz de Cristo na vida quotidiana é também uma semente segura e fecunda de novos cristãos. Uma vida plenamente humana e comprometida com Cristo tem esse preço de generosidade e entrega.
Queridos jovens, o testemunho cristão, a «vida digna» aos olhos de Deus tem esse preço. Se não estiverdes dispostos a pagá-lo, vereis o vazio existencial e a falta de um projecto de vida digno e responsavelmente assumido com todas as suas consequências. A Igreja tem o dever de dar uma formação moral, cívica e religiosa, que ajude os jovens cubanos a crescerem nos valores humanos e cristãos, sem medo e com a perseverança de uma obra educativa que necessita de tempo, dos meios e das instituições que são próprios dessa semeadura de virtude e espiritualidade para o bem da Igreja e da Nação.
«Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?» (Mc 10, 17). No Evangelho que escutámos, um jovem pergunta a Jesus o que deve «fazer», e o Mestre, cheio de amor, responde-lhe como deve «ser». Este jovem presume ter cumprido as normas, e Jesus responde-lhe que o necessário é deixar tudo e segui-l'O. Isto dá radicalidade e autenticidade aos valores e permite ao jovem realizar-se como pessoa e como cristão. A chave dessa realização está na fidelidade, exposta por São Paulo na primeira leitura, como uma característica da nossa identidade cristã.
Eis aí o caminho da fidelidade traçado por São Paulo: «Sede diligentes... amai-vos uns aos outros... Alegres na esperança... exercendo a hospitalidade... Bendizei... Tende entre vós os mesmos sentimentos... Acomodai-vos às coisas humildes... Não queirais ser sábios aos vossos próprios olhos... Não torneis a ninguém mal por mal... Não te deixes vencer pelo mal; mas vence antes o mal com o bem» (Rm 12, 9-21). Queridos jovens, quer sejais crentes ou não, acolhei o apelo a serdes virtuosos. Isto quer dizer que deveis ser fortes a partir de dentro, grandes de ânimo, ricos nos melhores sentimentos, corajosos na verdade, audazes na liberdade, constantes na responsabilidade, generosos no amor, invencíveis na esperança. A felicidade é alcançada com o sacrifício. Não busqueis fora o que podeis encontrar dentro. Não espereis dos outros o que sois capazes e chamados a ser e a fazer. Não deixeis para amanhã a construção duma sociedade nova, onde os sonhos mais nobres não se frustrem e onde possais ser os protagonistas da vossa história.
Recordai que a pessoa humana e o respeito pela mesma são o caminho de um mundo novo. O mundo e o homem asfixiam-se se não se abrem a Jesus Cristo. Abri-Lhe o coração e empreendei assim uma vida nova, que esteja em conformidade com Deus e responda às legítimas aspirações que tendes de verdade, de bondade e de beleza! Que Cuba eduque os seus jovens na virtude e na liberdade, para que possa ter um futuro de autêntico desenvolvimento humano integral, num ambiente de paz duradoura!
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