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O PAPA É CHAMADO A FALAR SOBRE A VERDADE DO HOMEM

Por Lucetta Scaraffia (L'Osservatore Romano)
Certamente a característica da missão de Bento XVI é a verdade. É-o para tudo, inclusive para o problema da AIDS e dos preservativos, um tema preocupante que poder-se-ia imaginar facilmente foi abordado durante a sua viagem à África. No meio das polémicas suscitadas pelas suas palavras, um dos mais prestigiosos jornais europeus, o britânico "Daily Telegraph", teve a coragem de escrever que, sobre o tema dos preservativos, o Papa tem razão. "Certamente a sida lê-se no artigo apresenta o tema da fragilidade humana e sob este ponto de vista todos devemos interrogar-nos sobre o modo de aliviar os sofrimentos. Mas o Papa é chamado a falar sobre a verdade do homem. É a sua função: ai dele se não o fizesse".
O problema da AIDS apresentou-se imediatamente, desde quando a doença se manifestou nos Estados Unidos nos primeiros anos 80, não só sob o ponto de vista médico, mas também cultural: a explosão da epidemia surpreendeu uma sociedade que acreditava ter derrotado todas as doenças infecciosas, e desde o início tocou um âmbito, o das relações sexuais, que há pouco tinha sido "libertado" pela revolução sexual. Com uma doença que punha em discussão o "progresso" alcançado e que se difundia rapidamente graças também à onda de cosmopolitismo que se estava a realizar com os novos e velozes meios de transportes.
Ficou imediatamente claro que tal patologia era fruto de uma modernidade avançada e de uma profunda transformação dos costumes, e que talvez a luta para a prevenir tivesse que considerar também estes aspectos. Ao contrário, no mundo ocidental, as campanhas de prevenção foram baseadas exclusivamente no uso dos preservativos, dando por certa a obrigação de não exercer alguma interferência nos comportamentos das pessoas. O "progresso" não deveria ser colocado em discussão; nem na África, onde era evidente e onde até agora é evidente, se os dados da Organização Mundial da Saúde sobre a difusão da AIDS fossem lidos com honestidade que apenas a distribuição de preservativos não pode conter a epidemia.
Na África, o preservativo não é usado de maneira "perfeita" o único que garante 96% de defesa contra a infecção mas de modo "típico", isto é, com uma utilização não continuada nem apropriada, que oferece 87% de defesa, e além disso dá uma segurança que pode ser perigosa no relacionamento com os outros: como se sabe, a sida não é transmitida só através da relação sexual, mas também por via hemática, portanto basta um arranhão, um pouco de sangue, para abrir a possibilidade de contágio. Também é preciso lembrar, como está escrito nas caixas dos preservativos nas instruções pormenorizadas sobre o seu uso, que se podem danificar facilmente com o calor são de látex! e se forem tocados com mãos ásperas, como as de quem faz trabalhos pesados. Mas as indústrias farmacêuticas, tão exactas ao assinalar estes perigos, depois são as mesmas que apoiam a lenda segundo a qual a difusão dos preservativos pode salvar a população africana da epidemia: e pode-se facilmente imaginar que cada ideia para difundir o seu uso é recebida com verdadeiro júbilo pelos seus departamentos comerciais.
O único país da África que obteve bons resultados na luta contra a epidemia foi Uganda, com o método abc, no qual a significa abstinência (abstinence), b fidelidade (being faithful) e c preservativo (condom), um método decerto não totalmente em conformidade com as indicações da Igreja. Até a revista "Science" reconheceu em 2004 que a parte de bom êxito do programa foi a mudança de comportamento sexual, com uma redução de 60% das pessoas que declaravam ter tido várias relações sexuais, e o aumento da percentagem dos jovens de 15 a 19 anos que se abstiveram do sexo, e escreveu: "Estes dados sugerem que a redução do número de partners sexuais e a abstinência entre os jovens não casados, ao contrário do uso do preservativo, foram factores relevantes na redução da incidência do hiv".
Muitos países ocidentais não querem reconhecer a verdade das palavras pronunciadas por Bento XVI, quer por motivos económicos os preservativos custam, enquanto a abstinência e a fidelidade são obviamente gratuitos quer porque temem que dar razão à Igreja sobre um ponto central do comportamento sexual possa significar um passo atrás na fruição do sexo puramente hedonista e recreativo, que é considerada uma importante conquista da nossa época. O preservativo é exaltado além das suas efectivas capacidades de deter a AIDS porque permite à modernidade continuar a crer em si mesma e nos seus princípios, e porque parece restabelecer o controle da situação sem nada mudar. É precisamente porque tocam este ponto nevrálgico, esta mentira ideológica, que as palavras do Papa foram tão criticadas. Mas Bento XVI, que o sabia muito bem, permaneceu fiel à sua missão, a de dizer a verdade.

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