DISCURSO DO PAPA BENTO XVI
Capela da Nunciatura Apostólica - Luanda
Sexta-feira, 20 de Março de 2009
Senhor Cardeal,
Amados Bispos de Angola e São Tomé!
Sinto-me imensamente feliz por poder encontrar-vos nesta sede que Angola reservou para o Sucessor de Pedro – habitualmente na pessoa de um seu Representante –, como expressão visível dos laços que unem os vossos povos à Igreja Católica, a qual há mais de quinhentos anos se alegra por poder contá-los entre os seus filhos. Elevem-se, concordes e fervorosos, os nossos louvores a Deus Pai que, por obra e graça do Espírito Santo, não cessa de gerar o Corpo místico de seu Filho nas suas feições angolana e santomense, sem por isso renegar a fisionomia judia, romana, portuguesa e tantas outras já antes adquiridas, «pois quantos de vós recebestes o baptismo de Cristo (…), sois um só em Cristo Jesus» (Gal 3, 27.28). Para continuar hoje esta obra de gestação do Cristo total, mediante a fé e o baptismo, quis o bom Deus precisar de mim e de vós, venerados Irmãos; não é, pois, de admirar se as dores de parto se fizerem sentir em nós até que Cristo esteja completamente formado (cf. Gal 4, 19) no coração do vosso povo. Deus vos recompensará por todo o trabalho apostólico realizado em condições difíceis quer durante a guerra quer actualmente no meio de tantas limitações, contribuindo deste modo para dar à Igreja em Angola e em São Tomé e Príncipe aquele dinamismo que todos lhe reconhecem.
Consciente do ministério que fui chamado a desempenhar no serviço da comunhão eclesial, peço que vos façais intérpretes da minha constante solicitude pelas vossas comunidades, que saúdo com sincero afecto na pessoa de cada um dos membros desta Conferência Episcopal. Dirijo uma saudação particular ao vosso presidente, Dom Damião Franklin, a quem agradeço as palavras de boas-vindas que em vosso nome me dirigiu, nelas evidenciando os vossos esforços de pontual discernimento e consequente plano unitário implementado nas vossas comunidades diocesanas «para o aperfeiçoamento dos cristãos (…) até que cheguemos todos ao estado de homem perfeito, à medida de Cristo na sua plenitude» (Ef 4, 12.13). De facto, contra um relativismo difuso que nada reconhece como definitivo e tende a defender como última medida apenas o próprio eu e os seus caprichos, nós propomos outra medida: o Filho de Deus, que é também verdadeiro homem. Ele é a medida do verdadeiro humanismo. O cristão de fé adulta e madura não é aquele que segue as ondas da moda e a última novidade, mas quem vive profundamente enraizado na amizade de Cristo. É esta amizade que nos abre a tudo o que é bom e nos dá o critério para discernir entre engano e verdade.
Decisivo para o futuro da fé e a orientação global da vida do país é, sem dúvida, o terreno da cultura, onde a Igreja goza de prestigiadas instituições académicas que se devem propor como ponto de honra fazer com que a voz dos católicos esteja sempre presente no debate cultural da nação, para que se reforcem as potencialidades de elaborar racionalmente, à luz da fé, as múltiplas questões que surgem nos vários âmbitos do saber e da vida. Além disso, a cultura e os modelos de comportamento estão hoje cada vez mais condicionados e caracterizados pelas imagens propostas pelos meios de comunicação social, pelo que é louvável todo o vosso esforço para terdes, também a este nível, uma adequada capacidade de comunicação, de modo a poder oferecer a todos uma interpretação cristã dos acontecimentos, problemas, realidades humanas.
Uma destas realidades humanas, hoje sujeita a múltiplas dificuldades e ameaças, é a família que tem particular necessidade de ser evangelizada e concretamente sustentada, porque, à fragilidade e instabilidade interna de muitas uniões conjugais, se vem juntar a tendência generalizada na sociedade e na cultura de contestar o carácter único e a missão própria da família fundada sobre o matrimónio. Na vossa solicitude de Pastores por cada ser humano, continuai a erguer a voz em defesa da sacralidade da vida humana e do valor do instituto matrimonial e para a promoção do papel da família na Igreja e na sociedade, pedindo medidas económicas e legislativas que a sustentem na geração e educação dos filhos.
Alegro-me pela presença nos vossos países de tantas comunidades vibrantes de fé, com um laicado empenhado que se dedica a várias obras de apostolado, e pelo número consistente de vocações ao ministério ordenado e à vida consagrada, nomeadamente contemplativa: sãoum autêntico sinal de esperança para o futuro. Enquanto o clero se vai tornando autóctone, desejo prestar homenagem ao trabalho paciente e heróico desenvolvido pelos missionários para anunciar Cristo e o seu Evangelho, e para fazer nascer as comunidades cristãs de que hoje sois responsáveis. Convido-vos a acompanhar de perto os vossos presbíteros, preocupando-vos com a sua formação permanente a nível teológico e espiritual, atentos às suas condições de vida e de exercício da sua missão, para que sejam testemunhas autênticas da Palavra que anunciam e dos Sacramentos que celebram. Possam, no dom de si mesmos a Cristo e ao povo de que são os pastores, permanecer fiéis às exigências do seu estado e viver o seu ministério presbiteral como um verdadeiro caminho de santidade, procurando fazer-se santos para suscitar ao seu redor novos santos.
Venerados irmãos, confiando na vossa orante recordação ao Senhor, da minha parte garanto-vos uma especial oração Àquele que é o verdadeiro Esposo da Igreja, por Ele amada, protegida e alimentada: o Filho unigénito do Deus vivo, Jesus Cristo Nosso Senhor. Que Ele sustente com a sua graça os vossos esforços pastorais, para que se tornem fecundos segundo o exemplo e sob a protecção do Coração Imaculado da Virgem Mãe. Com estes sentimentos, concedo a minha Bênção a todos vós, aos vossos presbíteros, às pessoas consagradas, aos seminaristas, aos catequistas e todos os fiéis leigos que fazem parte do rebanho que Deus vos confiou.
Fonte: Vatican.va
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