Por Jorge Pimentel Cintra
O falso mito de que os cientistas não acreditam em Deus
O falso mito de que os cientistas não
acreditam em Deus tem, na verdade, pretensões maiores do que parece à
primeira vista: quer dar a entender que todas as pessoas verdadeiramente
inteligentes e esclarecidas não aderem às “fábulas” ou aos “mitos”
religiosos; e os cientistas, esses “homens geniais”, levados pelas
demonstrações da sua ciência, chegaram à conclusão inevitável de que
Deus simplesmente não existe.
Outro falso mito que “corre solto” é
que os cientistas não acreditam em Deus. Em si, o fato não teria nada de
mais, já que encontramos ateus de todas as profissões e de todas as
categorias sociais. Este mito tem, na verdade, pretensões maiores do que
parece à primeira vista: quer dar a entender que todas as pessoas
verdadeiramente inteligentes e esclarecidas não aderem às “fábulas” ou
aos “mitos” religiosos; e os cientistas, esses “homens geniais”, levados
pelas demonstrações da sua ciência, chegaram à conclusão inevitável de
que Deus simplesmente não existe.
Nada mais distante da verdade;
um conhecimento superficial da vida de alguns cientistas poderia dar uma
impressão desse tipo, mas um estudo mais profundo mostra sempre que os
contados casos de ateísmo são muito mais uma conseqüência de
circunstâncias ou de problemas pessoais do que uma atitude decorrente de
conclusões científicas. De fato, até hoje ninguém apresentou nenhum
argumento verdadeiramente sério sobre a inexistência de Deus, e muito
menos baseado em conclusões científicas.
É um fato que houve
cientistas que foram ateus ou que abandonaram a prática da religião,
como por exemplo Madame Curie, polonesa de origem, nascida e educada na
religião católica, que se desinteressou da religião ao ficar abalada
pela morte da mãe. Só temos a dizer que é uma pena.
A Grande lista dos que acreditam em Deus
Por outro
lado, ao longo de toda a história, poderíamos citar uma quantidade
enorme de cientistas e de filósofos que acreditavam em Deus, que viveram
a sua religião ou até mesmo eram pessoas de comunhão diária, como
Pasteur. Muitos deles, além disso, manifestaram as suas convicções
publicamente, em mais de uma oportunidade.
Descartes e Galileu morreram como bons cristãos, com todos os sacramentos; Leibniz escreveu uma obra denominada Teodicéia (“Justificação
de Deus”) contra o ateísmo. Platão e Aristóteles, sobre os quais não
pesa a “suspeita” de serem considerados cristãos ou católicos, já que
viveram antes de Cristo, apresentaram inúmeras provas da existência de
Deus, com argumentos puramente racionais. Em Newton e Kepler encontramos
almas profundamente cristãs, que não tiveram o menor receio de falar de
Deus nos seus escritos. Mendel, o iniciador da genética, fez as suas
experiências com ervilhas nos terrenos do mosteiro de que era abade.
Copérnico, reintrodutor moderno do sistema heliocêntrico, era clérigo.
A profissão de fé dos maiores cientistas
Para não alongarmos demasiado o texto com explicações, apresentamos a
seguir depoimentos de alguns cientistas sem acrescentar-lhes maiores
comentários e restringindo-nos somente a alguns que já fazem parte da
história.1
(1) Citações extraídas do folheto Gott existiert, reproduzidos em Pergunte e Responderemos, ano XXIX, n. 316, setembro de 1988.
1. Isaac Newton (1642-1727), fundador da física clássica e descobridor da lei da gravidade: “A
maravilhosa disposição e harmonia do universo só pode ter tido origem
segundo o plano de um Ser que tudo sabe e tudo pode. Isto fica sendo a
minha última e mais elevada descoberta”.
2. William Herschel (1738-1822), astrônomo alemão, descobridor do planeta Urano: “Quanto
mais o campo das ciências naturais se dilata, tanto mais numerosas e
irrefutáveis se tornam as provas da eterna existência de uma Sabedoria
criadora e todo-poderosa”.
3. Alessandro Volta (1745-1827),
físico italiano, descobridor da pilha elétrica e inventor, cujo nome deu
origem ao termo voltagem: “Submeti a um estudo profundo as verdades
fundamentais da fé, e [...] deste modo encontrei eloqüentes testemunhos
que tornam a religião acreditável a quem use apenas a sua razão”.
4. André Marie Ampère (1775-1836), físico e matemático francês,
descobridor da lei fundamental da eletrodinâmica, cujo nome deu origem
ao termo amperagem: “A mais persuasiva demonstração da existência de
Deus depreende-se da evidente harmonia daqueles meios que asseguram a
ordem do universo e pelos quais os seres vivos encontram no seu
organismo tudo aquilo de que precisam para a sua subsistência, a sua
reprodução e o desenvolvimento das suas virtualidades físicas e
espirituais”.
5. Jons Jacob Berzelius (1779-1848), químico sueco, descobridor de inúmeros elementos químicos: “Tudo
o que se relaciona com a natureza orgânica revela uma sábia finalidade e
apresenta-se como produto de uma Inteligência Superior [...]. O homem
[...] é levado a considerar as suas capacidades de pensar e calcular
como imagem daquele Ser a quem ele deve sua existência”.
6.
Karl Friedrich Gauss (1777-1855), alemão, considerado por muitos como o
maior matemático de todos os tempos, também astrônomo e físico: “Quando tocar a nossa última hora, teremos a indizível alegria de ver Aquele que em nosso trabalho apenas pudemos pressentir”.
7. Agustin-Louis Cauchy (1789-1857), matemático francês, que desenvolveu o cálculo infinitesimal: “Sou
um cristão, isto é, creio na divindade de Cristo como Tycho Brahe,
Copérnico, Descartes, Newton, Leibniz, Pascal [...], como todos os
grandes astrônomos e matemáticos da antigüidade”.
8. James
Prescott Joule (1818-1889), físico britânico, estudioso do calor, do
eletromagnetismo e descobridor da lei que leva o seu nome: “Nós
topamos com uma grande variedade de fenômenos que [...] em linguagem
inequívoca falam da sabedoria e da bendita mão dO Grande Mestre das
obras”.
9. Ernest Werner von Siemens (1816-1892), engenheiro
alemão, inventor da eletrotécnica e que trabalhou muito no ramo das
telecomunicações: “Quanto mais fundo penetramos na harmoniosa
dinâmica da natureza, tanto mais nos sentimos inspirados a uma atitude
de modéstia e humildade; [...] e tanto mais se eleva a nossa admiração
pela infinita Sabedoria, que penetra todas as criaturas”.
10. William Thompson Kelvin (1824-1907), físico britânico, pai da
termodinâmica e descobridor de muitas outras leis da natureza: “Estamos
cercados de assombrosos testemunhos de inteligência e benévolo
planejamento; eles nos mostram através de toda a natureza a obra de uma
vontade livre e ensinam-nos que todos os seres vivos são dependentes de
um eterno Criador e Senhor”.
11. Thomas Alva Edison (1847-1931), inventor, com mais de 2.000 patentes, entre elas a da lâmpada elétrica: “Tenho [...] enorme respeito e a mais elevada admiração por todos os engenheiros, especialmente pelo maior deles: Deus!”.
12. Guglielmo Marconi (1874-1937), físico italiano, inventor do telégrafo sem fio, prêmio Nobel em 1909: “Declaro
com ufania que sou homem de fé. Creio no poder da oração. Creio nisto
não só como fiel cristão, mas também como cientista”.
13. John Ambrose Fleming (1849-1945), físico britânico, descobridor da válvula e do diodo: “A
grande quantidade de descobertas modernas destruiu por completo o
antigo materialismo. O universo apresenta-se hoje ao nosso olhar como um
pensamento. Ora, o pensamento supõe a existência de um pensador”.
14. Arthur Eddington (1882-1946), físico e astrônomo britânico: “A física moderna leva-nos necessariamente a Deus”.
15. Max Plank (1858-1947), físico alemão, criador da teoria dos quanta, prêmio Nobel em 1928: “Para
onde quer que se estenda o nosso olhar, em parte alguma vemos
contradição entre ciências naturais e religião, antes encontramos plena
convergência nos pontos decisivos. Ciências naturais e religião não se
excluem mutuamente, como hoje em dia muitos pensam e receiam, mas
completam-se e apelam uma para a outra. Para o crente, Deus está no
começo; para o físico, Deus está no ponto de chegada de toda a sua
reflexão”.
16. Albert Einstein (1879-1955), físico judeu alemão, criador da teoria da relatividade, prêmio Nobel em 1921: “Todo
o profundo pesquisador da natureza deve conceber uma espécie de
sentimento religioso, pois não pode admitir que seja ele o primeiro a
perceber os extraordinariamente belos conjuntos de seres que contempla.
No universo, incompreensível como é, manifesta-se uma inteligência
superior e ilimitada. A opinião corrente de que sou ateu baseia-se num
grande equívoco. Quem a quisesse depreender das minhas teorias
científicas, não teria compreendido o meu pensamento”.
17. Carl Gustav Jung (1875-1961), suíço, um dos fundadores da psicanálise: “Entre
todos os meus pacientes na segunda metade da vida, isto é, tendo mais
de 35 anos, não houve um só cujo problema mais profundo não fosse
constituído pela questão da sua atitude religiosa. Todos, em última
instância, estavam doentes por terem perdido aquilo que uma religião
viva sempre deu aos seus adeptos, e nenhum se curou realmente sem
recobrar a atitude religiosa que lhe fosse própria”.
18.
Werner von Braun (1912-1977), físico alemão radicado nos Estados Unidos e
naturalizado norte-americano, especialista em foguetes e principal
diretor técnico dos programas da NASA (Explorer, Saturno e Apolo), que
culminaram com a chegada do homem à lua: “Não se pode de maneira
nenhuma justificar a opinião, de vez em quando formulada, de que na
época das viagens espaciais temos conhecimentos da natureza tais que já
não precisamos de crer em Deus. Somente uma renovada fé em Deus pode
provocar a mudança que salve da catástrofe o nosso mundo. Ciência e
religião são, pois, irmãs, e não pólos antitéticos”. E: “Quanto
mais compreendemos a complexidade da estrutura atômica, a natureza da
vida ou o caminho das galáxias, tanto mais encontramos razões novas para
nos assombrarmos diante dos esplendores da criação divina”.
Será mesmo que todos os cientistas são ateus?
POR QUE EXISTEM ATEUS?
Realmente, essa é uma pergunta muito boa, para a qual talvez não exista
uma resposta conclusiva, pois no fundo trata-se de um mistério.
Para entender como se chegou a essa situação, é necessário regredir um
pouco no tempo em busca das raizes do problema. Sempre houve
materialistas e ateus, como Epicuro e Demócrito, já nos tempos áureos da
filosofia grega; mas, para nos restringirmos aos tempos modernos,
podemos começar novamente com Descartes. Uma das suas preocupações era
precisamente a de estabelecer (como postulado) uma separação radical
entre a fé e a razão humana, criando compartimentos estanques e
incomunicáveis dentro de cada ser humano, o qual teria assim uma espécie
de chave que poderia ser ligada e desligada: ora pensaria e agiria como
cientista, utilizando-se só da razão, ora pensaria e agiria como homem
religioso, valendo-se da fé. A religião seria, nesse esquema, algo
puramente voluntário e sentimental, em que a razão não teria cabida.
Um dos fatores que contribuiram para dar origem a essa atitude foram as
guerras de religião do século XVI, cujas conseqüências Descartes chegou
a presenciar: manifestações de fanatismo as mais diversas, em que cada
grupo afirmava estar na verdade e queria convencer os demais pela força.
Não é de estranhar que, até entre gente equilibrada, se levantasse a
tentação de dizer que os assuntos de religião são como os sentimentos:
cada qual tem os seus, como tem os seus gostos e preferências pessoais; é
assunto sobre o qual de nada adianta discutir: os argumentos são muito
mais passionais do que racionais. Que motivos racionais pode ter um
torcedor para torcer por um time de futebol?
Ora, uma vez que se
afirme que todas as religiões são iguais – que dependem do gosto de cada
um –, o passo seguinte é uma indiferença absoluta, que no fundo admite
que nenhuma delas está na verdade e nenhuma possui valores absolutos. A
conseqüência é que não vale a pena aderir a nenhuma religião oficial e
muito menos praticá-la.
O passo histórico seguinte foi o deísmo,
corrente nascida na Inglaterra, segundo a qual Deus não seria senão o
Grande Arquiteto do Universo que, tendo construido o mundo, o teria
abandonado a seguir nas mãos do homem; neste caso, caber-nos-ia viver
como se Deus não existisse, e portanto, seria preciso rejeitar a
existência de milagres, da Providência ou de um Evangelho revelado,
negando também qualquer intervenção de Deus na história humana. Cristo
seria um grande profeta e até o maior dos homens, o que, na boca dessas
pessoas, equivalia a negar que fosse Deus. A religião, a união com Deus,
ficaria reduzida a um vago sentimentalismo, e a moral a umas simples
regras de convivência entre os homens.
A partir daí, alguns
filósofos ingleses começaram a autodenominar-se livre-pensadores,
querendo dizer com isso que estavam livres da superstição (isto é, da
religião), e que aceitavam somente uma religião “natural”, sem dogmas
nem ritos; adotaram o lema “liberdade, igualdade, fraternidade”, que
seria assumido mais tarde pela Revolução francesa.
O passo
seguinte na evolução dessa linha de pensamento foi, naturalmente, o
agnosticismo (se é que Deus existe, não é possível conhecê-lo), ou
simplesmente o ateísmo. Por essa rota caminharam os filósofos da
Ilustração francesa: Condillac, Diderot, D’Alembert, que Lênin
recomendava como a melhor introdução ao “ateísmo científico”.
Nessa trajetória nota-se, paralelamente à expulsão de Deus da vida e do
pensamento, uma deificação do próprio homem. A atitude de Descartes
atribui ao homem (à sua inteligência) qualidades que são exclusivas de
Deus; Espinosa diz que o homem é parte de Deus; Kant atribui à razão
humana um papel fundamental na constituição da realidade; Hegel, num
panteísmo cósmico, deifica a razão humana, projetando-a como criadora de
toda a realidade; e Feuerbach entroniza definitivamente o homem no
lugar de Deus: “O homem é para o homem o ser supremo”, idéia plenamente
aceita por Marx. Finalmente, Nietzsche, como representante de muitos
outros, proclama a morte de Deus.
O triste paradoxo embutido
nessa atitude é que, ao tentar divinizar o homem, acabou-se por
animalizá-lo, reduzindo-o a um plano infra-humano. A conclusão era
lógica: se o homem não provém de cima (de Deus), só pode provir de baixo
(da matéria); se a dignidade do homem provém de estar feito à imagem e
semelhança de Deus, ao suprimir-se Deus suprime-se também a sua
dignidade, e o homem passa a ser qualquer outra coisa: o homem é aquilo
que come (Feuerbach); é puro sexo (Freud); provém do macaco (Darwin),
que provém da matéria (os defensores atuais da geração espontânea), que
provém do caos. Em perfeita consonância com esses princípios,
pregaram-se as filosofias da inimizade: o príncipe deve dominar pelo
medo (Maquiavel), o homem é o lobo do homem (Hobbes), a guerra, a luta e
a contradição constituem a essência da realidade (Hegel), o ódio é o
motor da história (Marx), o inferno são os outros (Sartre), devemos
aprender a odiar (Lunatcharsky). Os inimigos estão dentro do próprio
homem, numa tensão entre id, ego e super-ego, nos recalques, nas tensões psíquicas, no stress e nos complexos dos mais diversos gêneros.
Estas breves pinceladas não têm a pretensão de ser uma análise
histórica, mas penso que são suficientes para explicar uma série de
características do atual estado da sociedade. Depois de tudo isso, não é
de estranhar que alguns cientistas pudessem e possam desembocar no
ateísmo.
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