Por Inmaculada Álvarez
CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 9 de junho de 2008 (ZENIT.org).- O Papa Bento XVI afirmou ontem que, na situação atual de crise da modernidade, é urgente voltar a propor um «diálogo fecundo» entre a filosofia e a teologia, durante uma audiência concedida aos participantes no VI Simpósio Europeu de Professores Universitários.
Professores de 26 países europeus, junto com o cardeal Camillo Ruini, bispo vigário para a diocese de Roma, foram recebidos pelo Papa na Sala Clementina do Vaticano, após concluir este Simpósio que aconteceu em Roma de 5 a 8 de junho, sobre o tema «Ampliar os horizontes da racionalidade. Perspectivas para a filosofia».
O Santo Padre afirmou que a atual crise da modernidade «não é sinônimo do declínio da filosofia», mas que, ao contrário, «a filosofia deve empenhar-se em um novo caminho de busca para compreender a verdadeira natureza desta crise».
«O desejo de plenitude da humanidade não pode ser esquecido: são necessárias propostas adequadas. A fé cristã está chamada a encarregar-se desta urgência histórica, implicando todos os homens de boa vontade em uma empresa similar.»
O novo diálogo entre a fé e a razão, continuou o Papa, «não pode ser dado nos termos e nos modos em que se desenvolveu no passado. Se não quiser ver-se reduzido a um exercício intelectual estéril, deve partir da situação concreta do homem, e sobre ela desenvolver a reflexão que recolha a verdade ontológico-metafísica».
«Desde o início de meu pontificado, escuto com atenção os pedidos que me chegam dos homens e das mulheres de nosso tempo, e à luz de tais expectativas quero oferecer uma proposta de pesquisa que me parece que poderá suscitar interesse para o relançamento da filosofia e de seu papel insubstituível dentro do mundo acadêmico e cultural.»
«A modernidade, quando bem compreendida, revela uma ‘questão antropológica’ que se apresenta de uma maneira muito mais complexa e articulada que tudo o que previam as reflexões filosóficas dos últimos séculos, sobretudo na Europa.» Não se trata de um mero fenômeno cultural, adverte o Papa, mas implica «uma mais exata compreensão da natureza do homem».
Na busca de soluções a esta «prolongada crise», o Santo Padre considera significativo que muitos pensadores contemporâneos proponham uma abertura às religiões, e em particular ao cristianismo: «é um sinal evidente do desejo sincero de tirar a reflexão filosófica da auto-suficiência».
Frente a isso, o Papa recorda que o cristianismo faz, «desde os inícios da história», uma escolha clara entre o pensamento mítico e a filosofia, a favor da segunda. «Esta afirmação, que reflete o caminho do cristianismo desde seus inícios, revela-se plenamente atual no contexto histórico cultural que estamos vivendo».
«De fato, só a partir desta premissa, que é histórica e teológica ao mesmo tempo, é possível sair ao encontro das novas perspectivas da reflexão filosófica.»
Mas neste caminho há dois riscos que o cristianismo deve evitar: por um lado, o de ser instrumentalizado como um «fenômeno sub-reptício», ou seja, oculto: e por outro, o de que a fé cristã fique no «mundo abstrato das teorias».
«A fé cristã deve ser conduzida a uma experiência histórica concreta que chegue ao homem na verdade mais profunda de sua existência. A compreensão do cristianismo com real transformação da existência do homem, se por um lado impulsiona a reflexão filosófica a uma nova aproximação da religião, por outro a anima a não perder a confiança em poder conhecer a realidade», afirmou.
O Papa afirmou que é necessário promover «centros acadêmicos de alto perfil, nos quais a filosofia possa dialogar com o restante das disciplinas, especialmente com a teologia, favorecendo novas sínteses culturais idôneas que orientem o caminho da sociedade».
«Confio em que as instituições acadêmicas católicas sejam disponíveis à realização de verdadeiros laboratórios culturais.»
O Papa também crê que seja necessário «convidar os jovens a empreender estudos filosóficos». «Estou certo de que as novas gerações, com seu entusiasmo, saberão responder generosamente às esperanças da Igreja e da sociedade.»