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É PRECISO ALARGAR A RAZÃO PARA ENXERGAR AS COISAS SIMPLES

Gilbert Keith Chesterton
A maior parte dos homens retornaria aos antigos costumes em matéria de fé e de moral se conseguissem ampliar suficientemente os seus horizontes. É principalmente a sua estreiteza mental que os mantém nos trilhos da negação. Mas esse alargamento mental é facilmente mal interpretado, porque a mente precisa ser alargada para poder enxergar as coisas simples, ou mesmo as que são evidentes em si mesmas. Temos necessidade de uma espécie de esticamento da nossa imaginação para conseguirmos ver os objetos óbvios delinearem-se contra o seu fundo óbvio, especialmente quando se trata de objetos grandes colocados diante de um fundo grande.
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O crítico nunca se lembra de fazer alguma coisa tão simples como comparar o católico com o não-católico. A única coisa que nunca parece cruzar-lhe a mente, quando argumenta acerca da idéia que tem da Igreja, é perguntar-se com toda a simplicidade que seria do mundo sem a Igreja.
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Qual o resultado que obteremos se compararmos a Igreja com o “mundo” que está fora dela, ou que se opõe a ela, ou que nos é oferecido como uma alternativa para a Igreja? E a evidente resposta é que o “mundo”comete todas as barbaridades de que sempre acusou a Igreja, e as comete de maneira muito pior, e as comete em escala muito maior, e – e isto é o pior e o mais importante – as comete sem dispor de padrões para voltar à sanidade nem de motivos para fazer um movimento de penitência. Os abusos católicos podem ser reformados, porque dispomos de uma forma universalmente aceita; os pecados católicos podem ser expiados, porque há um teste e um princípio de expiação. Em que outra parte do mundo de hoje havemos de encontrar semelhante teste ou padrão?.
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O perigo atual é que as pessoas não se dispõem a ampliar suficientemente os seus horizontes a ponto de se tornarem capazes de enxergar as coisas óbvias, e esta é uma delas. Os homens acusam a tradição Romana de ser semi-pagã, e depois se refugiam num paganismo completo; queixam-se de que os cristãos se deixaram contaminar pelo paganismo, e depois fogem dos doentes para se refugiarem junto à doença. Não há uma única falta institucional imputada à Igreja Católica que não esteja presente de maneira muitíssimo mais flagrante, e até gritante, em qualquer outra instituição – o Estado, a Escola, a moderna máquina tributária e policial – que as pessoas se voltam, na esperança de que serão salvas por elas da superstição dos seus pais. Esta é a contradição, esta é a violenta colisão, este é o inevitável desastre intelectual em que estão envolvidas até as orelhas. Quanto a nós, só nos resta esperar, pondo em jogo toda a paciência de que sejamos capazes, até descobrirmos quanto tempo levarão para descobrir o que foi que lhes aconteceu.

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