Entrevista com o prof. Annibale Fantoli
Por Alexandre Ribeiro
SÃO PAULO, segunda-feira, 9 de março de 2009 (ZENIT.org).- O drama da vida de Galileu Galilei tem como pano de fundo o embate entre duas diferentes visões de mundo.
Para falar sobre o assunto, ZENIT entrevistou o professor Annibale Fantoli, doutor em matemática e física pela Universidade de Roma, autor de numerosas publicações, especialmente sobre temas galileanos. Fantoli acaba de lançar no Brasil a obra Galileu - pelo copernicanismo e pela Igreja (Edições Loyola), livro que foi publicado originalmente na coleção Studi Galileiani, série do Observatório Vaticano.
– Poderia explicar brevemente quais eram as duas visões de mundo que ainda conflitavam no tempo de Galileu?
–Prof. Fantoli: Eram o sistema aristotélico-ptolomaico grego, adotado pela Igreja desde a Idade Média, com a Terra no centro do mundo, e o sol circulando-a, junto com outros planetas e estrelas; e o sistema copernicano, elaborado pelo astrônomo polonês Copérnico e contido em seu livro «Sobre a revolução das esferas celestes», publicado em 1543. Neste sistema, o sol estava no centro do mundo, e a terra tornou-se um dos planetas ao seu redor. No tempo de Galileu, o sistema aristotélico-ptolomaico era pensado em todas as universidades européias como o verdadeiro, enquanto o copernicano foi aceito por um número pequeno de astrônomos.
–Como Galileu se posicionou perante essas duas visões de mundo?
–Prof. Fantoli: Galileu tornou-se um defensor do sistema copernicano, depois de suas descobertas com o telescópio, iniciadas em 1609. Esta é uma das razões pela qual, depois de 400 anos, este ano foi declarado o ano internacional da Astronomia. Suas descobertas mostraram que a lua tinha montanhas similares às da terra e também que o mundo celestial era da mesma natureza do mundo terrestre, contra a visão de Aristóteles, partilhada por Ptolomeu, da distinção essencial da natureza das duas partes do mundo. Além disso, a descoberta dos 4 satélites do planeta Júpiter mostrou que a terra não era o único centro da rotação de todos os corpos celestes, como afirmaram Aristóteles e Ptolomeu.
–Qual foi a postura da Igreja diante de Galileu?
–Prof. Fantoli: A Igreja decidiu em 1616, pelo Decreto da Congregação do Índice, que a teoria de Copérnico era oposta às Escrituras, que fala do movimento do sol e da estabilidade da terra, e Galileu foi advertido a abandoná-la, com um preceito pessoal do famoso cardeal Bellarmine. Quando depois, no tempo do Papa Urbano VIII, seu velho amigo, ele escreveu seu famoso Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo, pelo acordo com o Papa, ele deveria apresentá-los de forma imparcial, sem tomar posição em favor de nenhuma das visões. Na verdade, contudo, ele tinha apresentado claramente a superioridade do modelo copernicano sobre o ptolomaico. Então o Papa sentiu-se traído por seu velho amigo e o submeteu a julgamento em Roma. O veredicto foi a condenação de Galileu por suspeita veemente de heresia, que implicou na negação de Galileu de seu erro em fé e sua prisão por toda vida. Esta condenação foi o resultado de uma decisão não sábia da Igreja, tomada em 1616, de proibir qualquer questionamento sobre assuntos erroneamente considerados como pertencentes à fé. Galileu foi certamente responsável por seus erros táticos, mas o erro da Igreja foi muito mais sério. A Igreja levou 350 anos para reconhecer seu erro (em outubro de 1992), pela declaração solene de João Paulo II na Academia Pontifícia das Ciências.
–O que o “caso Galileu” deixa de lição para o diálogo entre ciência e fé hoje?
–Prof. Fantoli: Tal diálogo deve ser baseado no conhecimento da distinção do método científico e seus objetivos e os objetivos da teologia, que aborda assuntos de salvação eterna. É claro, distinção não significa separação completa. Na verdade, muitos tópicos estão inter-relacionados, tais como os biogenéticos, que apresentam problemas muito difíceis que não podem ser resolvidos por meras considerações científicas. De qualquer forma, para ser frutífero, o diálogo deve ser buscado com respeito mútuo e humildade.
Fonte: Zenit
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