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A PRIMAZIA DE CRISTO

Giovanni Maria Vian
Bento XVI voltou a Montecassino, onde tinha ido tantas vezes antes da eleição à Sé de Pedro, para repetir que nada se deve antepor ao amor de Cristo: nihil amori Christi praeponere, segundo a bela e essencial expressão da Regra beneditina que o novo Papa recordou para explicar a escolha do nome assumido como Romano Pontífice. Um nome bem-ditoso e pacífico que há mais de noventa anos não era usado nas sucessões papais, e que desta forma era explicado sobretudo em referência à primazia absoluta de Cristo.
Esta primazia não é um conceito abstracto nem sequer uma ideologia, mas a consequência de um encontro como afirma o Papa na sua primeira encíclica na vida quotidiana do cristão. De Joseph Ratzinger, como na de todos os fiéis, segundo um "programa" declarado com clareza no início do seu pontificado: isto é, o "de não fazer a minha vontade, de não perseguir as minhas ideias, mas de me pôr à escuta, com toda a Igreja, da Palavra e da vontade do Senhor e deixar-me guiar por Ele". Através da busca de Deus, aquele quarere Deum ensinado pelo pai do monaquismo ocidental e que Bento XVI em Paris, no memorável discurso pronunciado no Collège des Bernardins, indicou como origem da cultura maturada no continente europeu.
O programa beneditino de nada antepor a Cristo realiza-se todos os dias com gestos concretos. E neste ritmo do dia repetiu o Papa a vida monástica tem um valor exemplar para cada fiel, seja homem ou mulher. Antes de tudo, no espaço reservado à oração, "caminho silencioso" que conduz a Deus, e portanto autêntico "respiro da alma".
Depois vem o trabalho, realidade sempre difícil e que neste tempo de crise mundial com frequência se reveste de preocupação e de angústia para indivíduos e famílias, enlaçando-se com a questão da imigração. E ainda, a cultura, que não diz respeito a âmbitos circunscritos, mas significa também e sobretudo educação das novas gerações e responsabilidade em relação a elas. Estes são temas que preocupam os bispos italianos e que não por acaso estão presentes hoje nas palavras do cardeal presidente da conferência episcopal.
Voltar a Montecassino foi assim para Bento XVI uma nova ocasião para recordar a atenção sobre as prioridades da vida. E para invocar mais uma vez a paz aliás, o dom da paz e o compromisso para a realizar de um lugar pacífico e de civilização que foi inutilmente destruído pela barbárie da guerra moderna, aquela assustadora tragédia na qual a Europa começou a afundar há setenta anos. Também por isto Paulo vi, precisamente de Montecassino, proclamou São Bento padroeiro do velho continente, resumindo na cruz, no arado e no livro a obra secular dos seus monges. Para ressaltar a responsabilidade dos cristãos que visivelmente devem testemunhar a profundidade e a eficácia das suas raízes. Também na Europa, no contexto global e na busca racional do bem comum.

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