Por E. Christian Brugger
WASHINGTON DC, quarta-feira, 28 de abril de 2010 (ZENIT.org).-As ideias do jovem movimento internacional conhecido como "transhumanismo" está começando a caracterizar o pensamento de um número cada vez maior de médicos e bioéticos. Acredito que nossos leitores poderiam tirar proveito de uma breve introdução a elas.
O transhumanismo é, na realidade, um conjunto de ideias que se desenvolveram em resposta ao rápido avanço da biotecnologia nos últimos vinte anos (ou seja, que a tecnologia é capaz de aspirar à manipulação das condições físicas, mentais e emocionais dos seres humanos). A medicina convencional tradicionalmente tem tido o propósito de superar os transtornos que afligem a condição humana: hemorragias, cauterizações, amputações, fornecimento de medicamentos, operações e transferências para climas mais secos, todos com a finalidade de facilitar a saúde e lutar contra a doença e a degeneração, ou seja, o propósito era curar (isto é, era basicamente terapêutico).
A tecnologia está tornando possíveis intervenções que, além de uma finalidade terapêutica, estão destinadas ao reforço das capacidades humanas saudáveis. Há uma gradual, mas constante ampliação dos ideais médicos, desde o simples cuidado médico até a cura e melhora. Todos nós estamos muito familiarizados com as "drogas que melhoram o rendimento" no esporte profissional. Contudo, a biotecnologia promete criar formas possíveis de melhoria que vão muito além do aumento muscular.
A terapia genética germinal, por exemplo, desde seu início, tem como objetivo modificar geneticamente as "células germinais" humanas (ou seja, o esperma e os óvulos), com a finalidade de introduzir características desejáveis no âmbito intelectual, físico e emocional, e excluir as indesejáveis. Visto que as modificações acontecem nas células na linha "germinal", as características são herdadas e transmitidas às gerações posteriores. Medicamentos para melhorar a função mental, como Ritalina e Adderall, são cada vez mais utilizados por pessoas saudáveis a fim de melhorar as capacidades cognitivas. Um estudo demonstrou que cerca de 7% dos estudantes universitários dos EUA usam os estimulantes de prescrição com fins de melhora. Esse número parece só aumentar.
A pesquisa está avançando rapidamente com tecnologias de ponta, tais como a interface cérebro-computador direto (BCI), os implantes de micromecânica, nanotecnologia, prótese de retina, neuromuscular e cortical, e os chamados "chips de telepatia". Embora cada uma dessas tecnologias possa desempenhar um papel na transformação das vidas dos pacientes com deficiência para que possam se comunicar melhor, manipular equipamentos, ver, caminhar, mover suas extremidades e se recuperar de doenças degenerativas, o transhumanismo os vê como possíveis instrumentos para a transformação da natureza humana. A versão de 2002 da Declaração Transhumanista estabelece: "A humanidade vai mudar radicalmente no futuro através da tecnologia. Prevemos a viabilidade de redesenhar a condição humana, incluindo parâmetros tais como a inevitabilidade do envelhecimento, limitações dos intelectos humanos e artificiais, psicologia não escolhida, sofrimento e nosso confinamento no planeta Terra".
Sua proposta mais radical é a superação da morte. Embora o objetivo pareça como fantasia, há cientistas e filósofos influentes comprometidos nisso. O pertinente cientista e inventor transhumanista, Dr. Ray Kurzweil, diz que durante a maior parte da história humana a morte era tolerada porque não havia nada que se pudesse fazer a respeito. Mas está se aproximando rapidamente o momento em que vamos ser capazes de isolar os genes e as proteínas que causam a degeneração de nossas células e reprogramá-las. O pressuposto da inevitabilidade da morte já não é crível e deve ser removido. Michael West, presidente de uma das maiores empresas de biotecnologia nos EUA, Advanced Cell Technology, concorda, argumentando que "o amor e a compaixão por nosso próximo, em última instância, nos levarão à conclusão de que temos de fazer de todo o possível para eliminar o envelhecimento e a morte".
Embora eu acredite que a maioria das pessoas no mundo ocidental não compartilha as ideias mais radicais do transhumanismo, a aceitação da preocupação pela autonomia humana que está subjacente à filosofia transhumanista é praticamente pela autonomia secular e da bioética nos dias de hoje. Os testamentos vitais que consagram o direito das pessoas de rejeitar o tratamento para prolongar a vida, mesmo se não estiverem morrendo, está se tornando algo comum nos hospitais e nos formulários de consentimento. Oregon, Washington e Montana legalizaram o suicídio medicamente assistido, alegando como cilindro retórico o argumento que se garante o direito à autonomia de uma pessoa a exercer a livre determinação não somente sobre sua vida, mas também sobre sua morte. Se a autonomia se estender a estas realidades, então certamente garantirá a liberdade para melhorar nossas capacidades.
Receio que atualmente o único que previne a afirmação em grande escala do imperativo transhumanista é um fator de "desgosto emocional", que, podemos ter certeza, diminuirá gradualmente em virtude da insistência suave e implacável da opinião leiga. Ao fazer isso, nossa nacionalidade, isolada por esse conceito de autonomia extrema, se encontrará sem defesa diante do imperativo tecnológico, que diz: se podemos planejar nosso filho perfeito, se podemos ser mais inteligentes, fortes e bonitos, se podemos prolongar indefinidamente a vida humana, então devemos fazê-lo. Se os embriões são sacrificados por meio do processo de experimentação para a perfeição dessa tecnologia, ou se as desigualdades sociais são introduzidas para benefício de uns em detrimento de outros, este será o preço do progresso!
A instrução do Vaticano sobre bioética de 2008, Dignitas Personae, fala sobre o uso da bioética para "introduzir alterações com o suposto objetivo de melhorar e fortalecer o patrimônio genético" e adverte fortemente contra a "mentalidade eugênica" que tal manipulação promove. Tais atitudes estigmatizarão as características hereditárias da imperfeição, gerando preconceitos com relação às pessoas que a possuem, dando prioridade àquelas que possuem qualidades supostamente desejáveis.
A instrução conclui dizendo: "Também temos que notar que, na tentativa de criar um novo tipo de ser humano, pode-se reconhecer um elemento ideológico em que o homem tenta ocupar o lugar de seu Criador" (n. 27).
Os esforços por manipular a natureza humana, desta forma "[...] acabariam prejudicando o bem comum" (n. 27).
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