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É a fé que pode dar à razão (aos filósofos) a coragem de pensar até o fim e não desabar na desconstrução niilista.

Fonte: IHU

O desafio para a filosofia atual é ter mais audácia. É preciso não se deter na superfície. É preciso colocar os problemas fundamentais que dizem respeito à existência dos homens. É preciso ousar pensar.

Para o jesuíta francês Prof Dr Paul Valadier,esse programa proposto até mesmo por papas filósofos comoJoão Paulo II e Bento XVI visa a colaborar com a razão, para que não seja “esmagada pela amplitude dos problemas enfrentados pela humanidade atual: não somente a ecologia e o futuro do planeta, mas o encontro das culturas e das religiões”, afirmou.

Para Valadier, mestre e doutor em teologia pela Faculdade Jesuíta de Lyon, teologia e filosofia se tornam essenciais uma à outra na época atual. A filosofia ajuda e estimula a teologia a não “soçobrar nos diversos iluminismos ou integrismos que também caracterizam a atualidade da vida eclesial”. Segundo Valadier, se existe uma tradição católica forte, isso se deve ao seu “respeito pela razão em todo o seu alcance, sem a qual a fé soçobra no vazio”. 

“Muitos suspeitam da filosofia moderna por seu ceticismo, seu relativismo, seu agnosticismo, e mesmo por seu ateísmo. Mas uma fé viva deve poder enfrentar estes sistemas, não para esmagá-los por sua suficiência, mas para compreender suas lógicas e aprender a situar-se em relação a elas”,afirma o filósofo especialista em Friedrich Nietzsche, e que foi durante oito anos chefe de redação da revista francesa Études. “Talvez seja a fé que pode dar à razão (aos filósofos) a coragem de pensar até o fim e não desabar na desconstrução niilista”.

O desafio das religiões, nesse contexto, é “encarar as nossas diferenças e não procurar apagá-las. A paz e o entendimento só podem nascer da consciência compartilhada de nossas (legítimas) diferenças”, esse é “o mundo pluralista no qual nós devemos viver e no qual é preciso procurar paz e concórdia entre todos os povos e todas as religiões”. 

Por isso, explica, a maior contribuição das religiões monoteístas na atualidade é o seu encontro – nas palavras dePaul Ricoeur – no “conflito das interpretações”. Assim, afirma Valadier, as religiões podem responder às suas “pretensões de universalidade”, contribuindo “de maneira eminente ao fortalecimento da comunidade internacional e de seu direito”.

O cristianismo, especificamente, “pode lembrar oportunamente que o indivíduo, considerado como um átomo separado é apenas uma ilusão inconsistente. A pessoa humana nasce e se desenvolve nas relações, e somente nelas”,”Se ela se crê ’soberana’ ou ‘autônoma’, ou seja, sem elo ou sem alteridade, ela se perde e se torna ‘escrava’ de suas pulsões”. 

Portanto, o cristianismo, “professando que todo ser humano é amado por Deus (eleição divina), indica o valor da pessoa e nela suscita uma vontade criadora que não se abandona, mas procura responder positivamente à sua vocação”, diz Valadier.

Com relação aos desafios e perspectivas de futuro, em uma realidade em que a Igreja Católica passa por um declínio na Europa e está “em plena florescência” na Ásia e na África, Prevê que “o centro de irradiação da Igreja Católica não será mais a Europa, como antigamente, mas será, cada vez mais, a Ásia, a África e a América Latina“


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