O homem é um ser que procura. Toda a sua história o confirma. Também a vida de cada um de nós o testemunha. Muitos são os campos em que o homem procura, torna a procurar e por fim encontra; às vezes, depois de ter encontrado, começa de novo a procurar. Em todos estes campos em que o homem se revela como ser que procura, um há, o mais profundo de todos o que penetra mais intimamente na humanidade mesma do ser humano. E é o mais unido ao sentido de toda a vida humana.
O homem é o ser que procura a Deus.
Diversos são os caminhos desta busca. Múltipla é a história das almas humanas, exactamente ao percorrerem estes caminhos. Às vezes os caminhos parecem muito simples e curtos. Outras vezes são difíceis, complicados e longos. Às vezes o homem chega facilmente ao seu "heureka", "encontrei". Outras vezes luta com as dificuldades, como se não pudesse penetrar em si mesmo e no mundo, e sobretudo como se não pudesse compreender o mal que há no mundo. É sabido que, até no contexto da Natividade, mostrou este mal o seu aspecto ameaçador.
Não poucos são os homens que descreveram a busca que fizeram de Deus, pelos caminhos da própria vida. Mais numerosos ainda são aqueles que se calam, considerando, como o próprio mistério mais profundo e mais íntimo, tudo o que viveram percorrendo estes caminhos: o que experimentaram, como procuraram, como perderam a orientação e como a. encontraram de novo.
E, até depois de O encontrar, continua a procurá-Lo. E se O procura com sinceridade, já O encontrou; como, num célebre fragmento de Pascal, Jesus diz ao homem: "Consola-te, tu não me procurarias, se não Me tivesses já encontrado" (B. Pascal. Pensées, 553: Les mystère de Jésus).
Esta é a verdade sobre o homem.
Não é possível falsificá-la. Também não é possível destruí-la. Deve ser deixada ao homem porque ela é o que o define.
Que dizer do ateísmo diante desta verdade? Muitas coisas é necessário dizer, mais do que se pode encerrar no enquadramento deste meu breve discurso. Ao menos uma coisa não pode deixar de ser dita: é indispensável aplicar um critério, isto é, o critério da liberdade do espírito humano. Não está de acordo com este critério — critério fundamental — o ateísmo, quer quando nega "a priori" que o homem seja o ser que procura a Deus, quer quando mutila em vários modos tal procura na vida social, pública e cultural. Esta atitude é contrária aos direitos fundamentais do homem.
PAPA JOÃO PAULO II
AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-feira, 27 de Dezembro de 1978
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