Em outubro de 2008, em um claro não ao evolucionismo radical, o Papa Bento XVI se dirigiu aos membros da Pontifícia Academia para as Ciências e precisou que Deus é o fundamento de toda a criação.
Em suas palavras pronunciadas na Sala Clementina do Vaticano ante os membros deste dicastrio que iniciam hoje sua Assembléia Plenária sobre o tema "Olhar científico à evolução do Universo e a Vida", o Santo Padre, entretanto, deixou em claro que o princípio da criação não se opõe à idéia de uma evolução não absoluta."Neste contexto –continuou o Pontífice– os assuntos ligados à relação entre a leitura que as ciências fazem do mundo e a leitura oferecida pela Revelação Cristã emergem naturalmente. Meus predecessores, o Papa Pio XII e o Papa João Paulo II notaram que não existe oposição entre o entendimento da fé da criação e a evidência das ciências empíricas".
Bento XVI precisou além que "a filosofia em seus inícios tinha proposto imagens para explicar a origem do cosmos sobre a base de um ou mais elementos do mundo material. Esta gênese não era vista como uma criação, mas sim como uma mutação ou transformação; e incluía uma espécie de interpretação horizontal da origem do mundo".
"Um avanço decisivo –prosseguiu– no entendimento da origem do cosmos foi a consideração do ser e a preocupação da metafísica com a pergunta mais básica sobre a primeira origem transcendente do ser". "Para desenvolver e evoluir, o mundo necessitava primeiro ser, quer dizer sair de um nada para o ser. Tinha que estar criado: em outras palavras, pelo primeiro Ser que é tal por essência", acrescentou.
O Santo Padre explicou além que "afirmar que a fundação do cosmos e seu desenvolvimento está na sabedoria providente do Criador não significa dizer que a criação só tem que ver com o início da história do mundo e a vida. Em vez disso implica que o Criador capa estes desenvolvimentos e os mantém, faz-os evoluir e os sustenta continuamente". Depois de lembrar como Santo Tomás de Aquino afirmava que a "criação não é um movimento nem uma mutação" senão "a relação institucional e contínua que une à criatura com seu Criador porque Ele é a causa de todo ser e no que se converta", o Pontífice comentou que o Cristianismo permitiu nas pessoas a possibilidade de aproximar-se de um livro, "imagem querida por muitos cientistas".
"Galileu viu a natureza como um livro cujo autor é Deus na mesma forma em que as Escrituras têm a Deus como seu autor. É um livro cuja história, cuja evolução, cuja 'escritura' e significado, 'lemos' de acordo às diferentes aproximações das ciências, enquanto pressupomos todo o tempo a presença institucional do autor que quis revelar-se a si mesmo nela".
"Esta imagem –disse logo o Papa– também nos ajuda a entender que o mundo, longe de originar do caos, parece um livro ordenado; é um cosmos. face aos elementos do irracional, caótico e destrutivo nos longos processos de mudança no cosmos, este segue sendo 'legível'. Tem uma 'matemática' interior. A mente humana pode então comprometer-se em uma 'cosmografia' estudando os fenômenos mensuráveis e também em uma 'cosmologia' discernindo a lógica visível interior do cosmos".
É provável, prosseguiu, que "ao princípio não possamos ver a harmonia de tudo e as relações entre suas partes individuais, de sua relação ao todo. Entretanto, sempre existe uma ampla fila de eventos inteligíveis, e o processo racional revela uma ordem de correspondências evidentes e finalidades inegáveis: no mundo inorgânico, entre a microestructura e a macroestructura, entre a estrutura e a função, entre o conhecimento da verdade e a aspiração à liberdade". Bento XVI precisou além que "as perguntas experimentais e filosóficas gradualmente descobrem estes ordens, percebem-nos trabalhando para manter-se sendo, defendendo-se a si mesmo ante os desequilíbrios e os obstáculos que os superam. E graças às ciências naturais têm incrementado nosso entendimento do lugar único que tem a humanidade no cosmos".
O Santo Padre disse além que "a distinção entre um simples ser vivente e um ser espiritual que é capaz de Deus, assinala a existência de uma alma inteligente que tem um fim transcendente. Por isso o Magistério da Igreja constantemente afirmou que 'toda alma espiritual é criada imediatamente por Deus –não é 'produzida' por seus pais – e é além imortal'. Isto aponta à distinção da antropologia e convida à exploração da mesma por parte do pensamento moderno".
Finalmente, o Papa lembrou as palavras que João Paulo II dirigisse aos participantes deste dicastério em novembro de 2003: "a verdade científica, que é em si mesmo uma participação da Verdade divina, pode ajudar à filosofia e a teologia a entender cada vez mais plenamente à pessoa humana e a Revelação de Deus sobre o homem, uma Revelação que é completada e aperfeiçoada em Jesus Cristo. Por este importante enriquecimento mútuo na busca da verdade e o benefício da humanidade, estou, com toda a Igreja, profundamente agradecido".
Fonte: Acidigital
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