"É comum afirmar que a Igreja Católica, imbuída de uma mentalidade obscurantista e autoritária, opôs-se aos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade pregados pela Revolução Francesa. Entretanto, um estudo mais aprofundado dos acontecimentos ocorridos na França durante esse conturbado período mostra que a realidade é bem mais complexa do que parece."
Uma nação em crise
Ainda se encontra em jornais e salas de aula um ou outro intelectual imbuído do preconceito de que a Igreja se teria oposto desde o início à Revolução Francesa. Segundo essa visão, a Revolução seria sinônimo de “democracia”, e a Igreja teria estado unida de corpo e alma à monarquia, ou seja, ao obscurantismo e à opressão das consciências.
Felizmente, uma infinidade de estudos realizados ao longo do século XX, e publicados ou republicados por ocasião do segundo centenário da Revolução, já tornou do conhecimento comum que nem uma coisa nem outra são verdade. Mais do que representar a instauração da democracia numa sociedade ferrenhamente absolutista, a Revolução marcou o paroxismo de uma crise espiritual e social num país já abalado do ponto de vista político e institucional.
A título de exemplo: nem o rei nem a Igreja puseram entraves à Declaração dos direitos do homem e do cidadão – principal conquista positiva do primeiro período revolucionário –, com a única exceção de um velho bispo, aliás deputado da Assembléia, que sugeriu que se completasse a declaração dos direitos com outra dos deveres... A nobreza, maior prejudicada pela abolição dos seus privilégios, foi paradoxalmente a classe que mais se empenhou, corporativamente, na abolição desses mesmos privilégios. E as sangrentas lutas entre as facções monarquistas, burguesas, republicanas, comunistas e até anarquistas que marcaram o apogeu da atividade revolucionária e culminaram no Terror, foram tudo, exceto democráticas.
Quanto à acusação de “retrógrada” e de “inimiga das liberdades” que se costuma lançar contra a Igreja Católica, é preciso reconhecer que muitos católicos não souberam distinguir, no primeiro instante, os limites que era necessário traçar entre a tradição política e a religiosa. Os seus adversários anticlericais, porém, não deram mostras de terem horizontes mais amplos. Em contrapartida, e é um fato que se costuma esquecer, a Revolução moveu contra a Igreja uma perseguição que durou mais de dez anos, e na qual os motivos políticos, embora bastante presentes, desempenharam um papel secundário.
Para entendermos o que se passou, teremos de lançar uma vista de olhos sobre a crise econômica, institucional e espiritual que, a partir de 1750 aproximadamente, preparou os acontecimentos de 1789 (1).
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