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32. Primeiramente, apartam-se do senso comum, a que a Igreja sempre atendeu, aqueles que vêem no instinto sexual a mais importante e mais profunda das tendências humanas, e concluem daí que o homem não o pode coibir durante toda a sua vida sem perigo para o organismo e sem prejuízo do equilíbrio da sua personalidade.
33. Ora, segundo a acertada observação de santo Tomás, a mais profunda das inclinações naturais é o instinto da conservação: o instinto sexual não vem senão em segundo lugar. Além disso, compete à razão, privilégio singular da nossa natureza, regular essas tendências e instintos profundos e, por meio da direção que lhes dá, enobrecê-los.
34. Infelizmente, depois do pecado de Adão, as faculdades e as paixões do corpo, estando alteradas, não só procuram dominar os sentidos mas até o espírito, obscurecendo a razão e enfraquecendo a vontade. Mas é-nos dada a graça de Cristo, especialmente nos sacramentos, para nos ajudar a manter o nosso corpo em servidão e a viver do espírito (cf. Gl 5,25;1Cor 9,27). A virtude da castidade não exige de nós que nos tornemos insensíveis ao estímulo da concupiscência, mas que o subordinemos à razão e à lei da graça, esforçando-nos, segundo as próprias forças, por seguir o que é mais perfeito na vida humana e cristã.
35. Para conseguir, porém, o domínio perfeito do espírito sobre a vida dos sentidos, não basta abstermo-nos apenas dos atos diretamente contrários à castidade, mas é absolutamente necessário renunciar com generosidade a tudo o que ofende de perto ou de longe esta virtude: poderá então o espírito reinar plenamente no corpo e ver a sua vida espiritual em paz e liberdade. Quem não verá, à luz dos princípios católicos, que a castidade perfeita e a virgindade, bem longe de prejudicarem o desenvolvimento normal do homem e da mulher, os elevam pelo contrário à mais alta nobreza moral?
(...)
O socorro da oração e dos sacramentos
59. Outra coisa se deve ainda ponderar com atenção: para conservar ilibada a castidade não bastam a vigilância e o pudor. É preciso recorrer também aos meios sobrenaturais: à oração, aos sacramentos da penitência e da eucaristia, e a uma devoção ardente à virgem Mãe de Deus.
60. Nunca nos devemos esquecer que é dom divino a castidade perfeita. "Foi dado àqueles que o pediram", nota são Jerônimo (cf. Mt 19,11), "àqueles que o quiseram, àqueles que trabalharam para o receber. Porque a todo aquele que pede ser-lhe-á dado, aquele que procura encontrará e a quem bate ser-lhe-á aberto" (cf. Mt 7,8). Acrescenta santo Ambrósio que da oração depende a constante fidelidade das virgens ao seu divino Esposo. E santo Afonso Maria de Ligório, com a ardentíssima piedade que o caracterizava, ensina que não há meio mais necessário e mais eficaz para vencer as tentações contra a virtude angélica do que o recurso imediato a Deus pela oração.
61. À oração tem de se juntar o sacramento da penitência, que, sendo recebido com freqüência e preparação, é remédio espiritual que purifica e sara; e também a sagrada Eucaristia, que na expressão do nosso predecessor de imortal memória, Leão XIII, é o melhor "remédio contra a concupiscência". Quanto mais casta é a alma, tanto mais fome tem deste pão, que dá a força contra todas as seduções impuras e une mais intimamente ao divino Esposo: "O que come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim e eu nele" (Jo 6,57).
CARTA ENCÍCLICA DO PAPA PIO XII
SACRA VIRGINITAS
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