"A afetividade deve ser acompanhada de uma racionalidade responsável, que só pode nascer de uma verdadeira espiritualidade. O homem pleno estrutura sua vida sobre princípios éticos que são superiores ao desejo imediato. Ser pai e ser mãe é uma coisa maravilhosa, mas deve ter um lastro espiritual. Caso contrário, não se resistirá aos ídolos modernos do consumismo, do sexismo desenfreado e da violência.
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O homem é capaz de superar a si mesmo. Conheci no Brasil e na Europa crianças que nasceram de mãe solteira, tiveram seus sofrimentos – e não poucos –, mas foram apoiadas. Mas, justamente porque esse é um problema tão grande e complexo, não quero propor uma solução simplória. O aborto é um colapso do ser humano. A pílula é uma solução simplória. O que não se deve é dizer: "Vamos tomar pílulas para não ter filhos". Dessa forma as pessoas querem resolver um problema profundamente humano com um martelo ou com fogo e faca. Essa pílula do dia seguinte também é, normalmente, uma matança de um ser concebido. Deve-se promover a paternidade responsável. O problema é que querem ter o prazer, mas nenhum dever. Em muitas escolas se ensina que sexo é para usar. Sexo é aberto para uma profunda responsabilidade para com o outro e para com a vida. Pode e deve ser fonte de felicidade. O egoísmo do sexo não só degrada e esvazia a pessoa como ameaça a existência de um povo. Não se quer ter dois ou três filhos. Eventualmente se quer um. E é sabido que, abaixo de 2,2 filhos por casal, se caminha para a morte da humanidade.
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O aborto é um problema emocional, humano, muito maior que a maior pobreza. Tantas mulheres que cometeram esse ato continuam sofrendo depois de décadas, e esse sofrimento não se curará facilmente. A sociedade pode, deve dar sua contribuição para que elas não precisem chegar a isso. Se os países investissem mais na família, economizariam centenas de milhões de dólares em outros setores. Não precisariam, por exemplo, manter tantas prisões com gente estragada pela sociedade, pela vida. Muita gente que, por não ter um dia as mínimas condições de viver, de se formar, caiu no banditismo. Diversos países descobriram, por exemplo, que é melhor destinar diretamente às mães uma parte do dinheiro que seria gasto com a construção de creches. Assim elas podem ficar em casa e educar seus filhos.
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Houve uma mudança cultural no mundo. Há cinqüenta anos, uma pessoa que aprendia a ser carpinteiro não mudava de profissão. O indivíduo era feliz de ter chegado a esse pequeno porto para amarrar sua barca. Hoje, o sujeito estuda medicina, mas é capaz de mudar para biologia, para pesquisa pura. Por um lado isso é bom, mas gera outros problemas. A questão é que, com a multiplicação de ofertas a que o homem se acostumou, ele perdeu o hábito de fazer uma opção para sempre. Os motivos podem ser mais profundos, claro. Mas o fato é que antigamente, quando alguém se casava e chegava o momento da crise, não era fácil descasar-se. Hoje muita gente já nem se comove com a ruína do casamento. O que se perde nesse processo não são apenas os valores eternos, mas a capacidade de a pessoa se autoquestionar. O próprio homem se tornou, ao mesmo tempo, sujeito e objeto de consumo. "
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