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Comunicar a identidade cristã na sociedade pós-moderna

Uma conferência da teóloga leiga alemã Jutta Burggaraf

Por Carmen Elena Villa

ROMA, domingo, 2 de maio de 2010 (ZENIT.org).- Aconteceu na Pontíficia Universidade da Santa Cruz em Roma o congresso Church and comunications. Identily and dialogue (Igreja e comunicação, identidade e diálogo”), encerrado na quarta-feira.

Dentro de densas e interessantes reflexões sobre estratégias de comunicação, a presença da Igreja na mídia, os atuais temas de controvérsia como a pedofilia, entre muitos outros, uma das oradoras, bastante aplaudido pelos participantes, enfatizou um elemento fundamental no processo de dar conhecimento do Evangelho: somente se pode comunicar a Cristo em primeira pessoa.

Busca por almas

Jutta Burggraf, leiga, doutora em Psicopedagogia na Sagrada Teologia e professora da Universidade de Navarra, disse como no mundo atual “parece que qualquer coisa é mais credível que uma verdade cristã”.

Não se busca o verdadeiro, mas o desejável, o que gostam e acham que faz bem: um pouco de Buda, um pouco de Shiva, um pouco de Jesus de Nazaré”, disse.

Ela descreveu o homem como um cigano: “Não tem lugar: talvez tenha uma casa para o corpo, mas não para a alma. Há falta de orientação, há insegurança e também muita solidão”.

“Assim, não é de estranhar que se queira alcançar a felicidade no prazer imediato ou talvez no aplauso”, assegurou a filósofa. “Se alguém não é amado, quer ser ao menos elogiado”.

Uma época na qual “temos meios cada vez mais perfeitos, mas os fins estão completamente perturbados”. O homem expressa assim uma “sede de interioridade”, que pode se manifestar “tanto na literatura como na arte, na música e também no cinema”.

Em meio dessa busca, poucos pensam no cristianismo como uma opção, devido a ter fama de “não ser mais que uma rígida instituição burocrática, com preceitos e punições”.

No entanto, afirmou a professora Burggraf, há também aqueles que fogem do cristianismo por motivos opostos, “a pregação cristã lhes parece superficial, muito light, sem fundamento e sem exigências rigorosas”.

“Querem que alguém lhes diga com absoluta certeza qual é o caminho da salvação, e que outro pense e decida por eles: aí temos o grande mercado das seitas”, assegurou a docente.

Evangelização no século XX

Estamos na era chamada pós-modernismo. Jutta Burggraf a definiu como “uma época que vem ‘depois’ do modernismo e ‘antes’ de uma nova era que ainda não conhecemos”. Uma série de novidades que “reclamam um novo modo de falar e de atuar”.

Por isso, disse essa teóloga, não se pode olhar o passado com nostalgia “mas sim adotar uma atitude positiva para o momento histórico concreto: deveria estar à altura de novos acontecimentos, que marcam suas alegrias e preocupações, e todo seu estilo de vida”.

É preciso saber perceber os acontecimentos de outra forma que as gerações anteriores. “Um bom teólogo lê tanto a Bíblia como o jornal”, garantiu Jutta.

A docente também se referiu à linguagem não verbal no processo de comunicar o Evangelho: “transmitimos somente uma pequena parte da informação de modo consciente, e todo o resto de modo inconsciente: por meio do olhar, da expressão do rosto, através das mãos e dos gestos, da voz e da linguagem corporal”.

Jutta disse que somente se pode anunciar a Deus se o homem tem dentro de si uma sólida identidade cristã: “talvez nossa linguagem pareça às vezes tão incolor porque ainda não estamos suficientemente convencidos da beleza da fé e do grande tesouro que temos, e nos deixamos facilmente ser esmagados pelo ambiente”.

Um cristão não tem de ser perfeito, mas sim autêntico”, assegurou Jutta. “Os outros notam se uma pessoa está convencida do conteúdo de seu discurso ou não”.

A sociedade pós-moderna rejeitou os “grandes relatos” e também os “portadores da suma verdade”, já que hoje, está mais claro que nunca “que ninguém pode saber tudo”.

Por isso, a pastoral deve ser “desde baixo”, não “de cima”, muito menos desde a cátedra, que quer educar os pobres ignorantes”, garantiu a teóloga.

Quem fala de Cristo deve estar convencido que “não é uma doutrina que possuímos, sim uma Pessoa pela qual nos deixamos possuir. É um processo sem fim, uma conquista sucessiva”.

Falar da fé é mostrar “o grande amor de Deus por nós, a vida apaixonante de Cristo, a atuação misteriosa do Espírito em nossa mente e coração”.

Por isso, é necessário “fugir do que fazem os que querem tirar a força do cristianismo: reduzem a fé à moral e a moral ao sexto mandamento”.

A docente ainda disse que acreditar em Deus significa “caminhar com Cristo - em meio de todas as lutas que tenhamos - até a casa do Pai”.

Ao anunciar Cristo “pouco adiantam os esforços, e menos ainda os sermões”. O mais importante é a fé, “um dom de Deus”. “Podemos convidar os outros a pedi-la, junto a nós, humildemente, do alto”, conclui a docente.

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