"Venerai sempre Cristo Senhor nos vossos corações e estai sempre prontos a responder... a todo aquele que vos perguntar a razão da vossa esperança" (3, 15)
A fé cristã é esperança. Abre o caminho rumo ao futuro. E é uma esperança que possui racionalidade; uma esperança cuja razão podemos e devemos expor. A fé provém da Razão eterna que entrou no nosso mundo e nos mostrou o verdadeiro Deus. Vai além da capacidade própria da nossa razão, assim como o amor vê mais do que a simples inteligência. Mas a fé fala à razão e no confronto dialético pode prevalecer sobre a razão. Não a contradiz, mas caminha a par com ela e, ao mesmo tempo, conduz além dela introduz na Razão — maior de Deus. Como Pastores do nosso tempo, nós temos a tarefa de ser os primeiros a compreender a razão da fé. A tarefa de não deixar que ela seja simplesmente uma tradição, mas de a reconhecer como resposta às nossas perguntas. A fé exige a nossa participação racional, que se aprofunda e se purifica numa partilha de amor. Faz parte dos nossos deveres como Pastores penetrar a fé com o pensamento para sermos capazes de demonstrar a razão da nossa esperança no debate do nosso tempo. Contudo, o pensar — mesmo se tão necessário — sozinho não é suficiente. Assim como falar, sozinho, não é suficiente. Na sua catequese baptismal e eucarística no segundo capítulo da sua Carta, Pedro faz alusão ao Salmo usado na Igreja antiga no contexto da comunhão, isto é, ao versículo que diz: "Saboreai e vede como é bom o Senhor" (Sl 34[33], 9; 1 Pd 2, 3). Só o saborear conduz ao ver. Pensamos nos discípulos de Emaús: só na comunhão convival com Jesus, só na fracção do pão se abrem os seus olhos. Só na comunhão com o Senhor deveras experimentada eles se tornam videntes. Isto é válido para todos nós: além do pensar e do falar, precisamos da experiência da fé; da relação vital com Jesus Cristo. A fé não deve permanecer teoria: deve ser vida. Se no Sacramento encontramos o Senhor; se na oração falamos com Ele; se nas decisões quotidianas aderimos a Cristo — então "vemos" cada vez mais como Ele é bom. Então experimentamos que é muito bom estar com Ele.
Bento XVI na Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo
29 de Junho de 2009
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